O Mundo Perdido - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 98 / 286

Eu fiquei com Challenger, que arvorava um humor angélico: a benevolência irradiava em todos os seus traços fisionómicos. Como eu tinha alguma experiência das suas variações de humor, contava que se fizessem ouvir trovões naquele céu sereno. Na sua companhia é impossível sentirmo-nos à vontade mas, ao menos, nunca nos aborrecemos.

Durante dois dias subimos um rio importante: com uma largura de várias centenas de metros e uma água tão escura como transparente que permitia ver o fundo. Os afluentes do Amazonas são de duas espécies. Aqueles cuja a água é escura e transparente e aqueles cuja a água é esbranquiçada e opaca; esta diferença provém da natureza da região que atravessam. O escuro indica vegetal em putrefacção, o esbranquiçado solo argiloso. Tivemos, por duas vezes, de franquear rápidos ou, antes, de contorná-los transportando as canoas durante perto de um quilómetro. De cada lado do rio, os bosques estavam nos seus primeiros rebentos e sentimos relativamente poucas dificuldades em penetrar neles com as canoas. Como poderei eu alguma vez esquecer o seu mistério solene? A altura das árvores e a espessura dos troncos ultrapassavam a imaginação do citadino que sou; lançavam-se em colunas magníficas até uma distância enorme por sobre as nossas cabeças; mal conseguíamos distinguir o sítio onde espalhavam os ramos laterais em cabides góticos; estes combinavam-se para formar um grande tecto acolchoado de verdura; através do qual um eventual raio de sol dardejava uma linha resplandecente que perfurava aqui e ali a obscuridade majestosa.





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