Eram quase nove horas quando partiu. Não havia ideia do tempo que iria demorar, mas fiquei sentado, impassível, a fumar cachimbo e a passar os olhos pelas páginas de Vie de Bohéme de Henri Murger. Deram as dez e ouvi os passos da criada que se afastava para se ir deitar. Onze horas e a senhoria, com o seu andar altivo, passou à minha porta, com o mesmo destino. Era quase meia-noite quando ouvi o ruído surdo da sua chave na porta. Assim que entrou, vi pelo seu rosto que não fora bem-sucedido. A jovialidade e o desgosto pareciam estar a tentar levar a melhor, até que de repente a primeira venceu, e ele soltou uma forte gargalhada.
- Por nada deste mundo deixarei que os da Scotland Yard saibam - gritou ele, deixando-se cair na cadeira -, zombei tanto deles que nunca me deixariam ouvir contar o resultado disto. Posso rir, porque sei que estarei com eles na longa caminhada.
- Então, que é? - perguntei.
- Oh, não me importo de contar uma história contra mim mesmo! Aquela criatura afastara-se um pouco quando começou a coxear e a evidenciar todos os sinais de estar com os pés doridos. Parou pouco depois e fez sinal a um veículo de quatro rodas que ia a passar. Consegui aproximar-me dela para ouvir a morada, mas não precisava de estar tão ansioso, porque a deu em voz tão alta que se ouviu no outro lado da rua. «Para o 13, Duncan Street, Houndsditch», gritou ela. «Isto começa a parecer autêntico», pensei e, tendo-a visto em segurança lá dentro, empoleirei-me atrás. É uma arte em que todos os detectives deviam ser peritos. Bem, partimos com estrépito e nunca abrandámos o andamento até chegarmos à rua em questão. Saltei antes de nos aproximarmos da porta e desci a rua indolente e descontraidamente. Vi parar o cabriolé. O cocheiro saltou e vi-o abrir a porta e ficar à espera.