Cândido - Cap. 22: CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin Pág. 83 / 118

A sua intenção era aproveitar quanto pudesse das vantagens que o conhecimento de Cândido lhe podia oferecer. Falou-lhe muito de Cunegundes, e Cândido disse-lhe que pediria perdão à sua amada da sua infidelidade quando a encontrasse em Veneza.

O perigordino redobrava de atenções e de delicadezas e mostrava o maior interesse em tudo o que Cândido dizia, em tudo o que ele fazia ou projectava fazer.

- Tendes então - perguntou ele - um encontro marcado em Veneza?

- Sim, Sr. Abade, é absolutamente necessário que eu encontre a menina Cunegundes - respondeu-lhe Cândido.

Então, levado pelo prazer de falar daquela que amava, contou-lhe, segundo o seu costume, uma parte das suas aventuras com esta ilustre vestefaliana.

- Creio - disse o abade - que a menina Cunegundes deve ter muito espírito e escrever-vos cartas encantadoras.

- Nunca as recebi, pois, tenho sido expulso do castelo por amor dela, não podia escrever-lhe para lá; pouco depois, soube que ela tinha morrido; em seguida, encontrei-a novamente e novamente a perdi. Enviei-lhe agora um mensageiro ao local onde permanece, a duas mil e quinhentas léguas daqui, e espero novas dela.

O abade escutava com a maior atenção e parecia um tanto ou quanto pensativo. Pouco depois despediu-se dos dois estrangeiros, depois de os ter abraçado amistosamente. No dia seguinte, Cândido recebeu, quando acordou, uma carta concebida nos seguintes termos:

Senhor meu amante muito querido, há oito dias que me encontro doente nesta cidade; soube que aqui vos encontrais. Se me pudesse mexer, voaria para os vossos braços. Tomei conhecimento da vossa passagem em Bordéus, onde deixei o fiel Cacambo e a velha, que devem estar a chegar.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113