O perigordino redobrava de atenções e de delicadezas e mostrava o maior interesse em tudo o que Cândido dizia, em tudo o que ele fazia ou projectava fazer.
- Tendes então - perguntou ele - um encontro marcado em Veneza?
- Sim, Sr. Abade, é absolutamente necessário que eu encontre a menina Cunegundes - respondeu-lhe Cândido.
Então, levado pelo prazer de falar daquela que amava, contou-lhe, segundo o seu costume, uma parte das suas aventuras com esta ilustre vestefaliana.
- Creio - disse o abade - que a menina Cunegundes deve ter muito espírito e escrever-vos cartas encantadoras.
- Nunca as recebi, pois, tenho sido expulso do castelo por amor dela, não podia escrever-lhe para lá; pouco depois, soube que ela tinha morrido; em seguida, encontrei-a novamente e novamente a perdi. Enviei-lhe agora um mensageiro ao local onde permanece, a duas mil e quinhentas léguas daqui, e espero novas dela.
O abade escutava com a maior atenção e parecia um tanto ou quanto pensativo. Pouco depois despediu-se dos dois estrangeiros, depois de os ter abraçado amistosamente. No dia seguinte, Cândido recebeu, quando acordou, uma carta concebida nos seguintes termos:
Senhor meu amante muito querido, há oito dias que me encontro doente nesta cidade; soube que aqui vos encontrais. Se me pudesse mexer, voaria para os vossos braços. Tomei conhecimento da vossa passagem em Bordéus, onde deixei o fiel Cacambo e a velha, que devem estar a chegar.