O governador de Buenos Aires apoderou-se de todos os meus bens, mas resta-me ainda o vosso coração. Vinde, que a vossa presença me restituíra a vida ou me fará morrer de prazer. Esta carta encantadora, esta carta inesperada, extravasou Cândido de uma alegria inexprimível; ao mesmo tempo, a doença da sua querida Cunegundes encheu-o de dor. Repartido entre estes dois sentimentos, pegou no seu ouro e nos seus diamantes e fez-se conduzir, acompanhado de Martin, ao hotel em que se encontrava a menina Cunegundes.
Entra trémulo de emoção, o seu coração palpita, a voz soluça-lhe. Quer abrir os cortinados do leito, quer luz para ver melhor.
- Não faça isso - disse-lhe a criada -, a luz pode matá-la.
- E fecha imediatamente as cortinas.
- Minha querida Cunegundes, como estais vós? - dizia Cândido a chorar. - Se não podeis ver-me, falai-me, ao menos.
- Ela não pode falar - observou-lhe a criada.
A dama solta então do leito uma mão gorducha, que Cândido banha com as suas lágrimas e que em seguida enche de diamantes, deixando um saco cheio de ouro na poltrona.
No meio dos seus transportes chega um chefe da polícia, acompanhado pelo abade perigordino e por alguns guardas.
- Ora então - disse ele -, são estes os dois estrangeiros suspeitos?
E ordena imediatamente aos guardas que os prendam e os conduzam à cadeia.
- Não é assim que tratam os viajantes no Eldorado - disse Cândido.
- Estou cada vez mais maniqueu - disse Martin.
- Mas, senhor, para onde nos levais? - perguntou Cândido.
- Para o fundo de uma enxovia - responde o chefe da polícia.
Martin, recobrando a serenidade, viu que a dama que se fazia passar por Cunegundes era uma embusteira, o Sr.