Atravessando por entre os soldados tingitanos, a donzela e os seus libertadores começaram a descer apressadamente a encosta.
Já os três fugitivos iam a alguma distância, quando, como tomado de uma ideia súbita, um dos esculcas exclamou:
— Aquele homem é godo! Nenhum árabe fala assim a língua romana: muito menos os broncos guerreiros de Al-Sudan. Por minha fé, que são inimigos!
Os acontecimentos inesperados dessa noite, a incerteza em que se achavam os esculcas sobre o que sucedia no arraial, a rapidez com que se passara esta cena e, sobretudo, a audácia e o tom imperativo com que o desconhecido falara não haviam dado lugar à reflexão e às suspeitas. Mas as palavras do soldado foram para todos um raio de luz:
— Tens razão, bucelário — atalhou o capitão da decania. — Fazei-os parar.
Os três, que já iam a meia encosta, ouviram muitas vozes clamar:
— Esperai!
— Somos perseguidos! — disse em voz baixa aquele que ficara junto da donzela enquanto o outro falava com os vigias.
— Está salva! — respondeu o companheiro, que parecia ter concentrado todos os seus cuidados num pensamento único, a fuga de Hermengarda.
Duas frechas lhes sibilaram então por cima das cabeças. — «Covadonga e Pelágio!» — gritou o que proferira as últimas palavras. Eram chegados à raiz do monte, junto ao qual uma planície inculta e coberta de urzes se estendia até ir topar com os bosques que povoavam os primeiros cabeços das serranias setentrionais.