Robinson Crusoe - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 126 / 241

Calculei depois que as minhas lamas quando crescessem poderiam fugir e que o único meio de o impedir era fechá-las num terreno cercado por uma espessa paliçada, tanto para evitar a fuga como para impedir a entrada de outras, porque receava que, desse contacto, as minhas se tornassem selvagens. A empresa parecia superior às forças de um só homem, mas era absolutamente indispensável. O meu primeiro cuidado foi arranjar um bocado de terreno conveniente onde se encontrasse água, erva e sombra.

As pessoas conhecedoras e hábeis em construir este género de cercados, o menos que poderão fazer é rir-se quando souberem as disposições que tomei depois de ter encontrado um sítio tal como desejava; era ele uma savana ou pradaria, como lhes chamamos nas nossas colónias ocidentais, atravessada por dois ou três arroios e muito povoada de árvores em cada uma das suas extremidades; mas precisava, para fechar aquela planície, de um cercado ou paliçada de duas mil varas de circunferência. Mesmo assim, a loucura não consistia na grande extensão do recinto, que tinha dez milhas, porque tempo sobrava-me para o fazer; não havia, porém, pensado que as minhas lamas tanto podiam ser selvagens dentro do cercado como se andassem errantes por toda a ilha e que, atendendo às dimensões do local, me teria sido impossível apanhá-las.

O cercado já estava principiado e tinha umas cinquenta varas quando me veio à memória o dito pensamento. Alterei então o plano e resolvi não dar à cerca mais de cento e cinquenta varas de comprimento e cem de largura; isto era suficiente para conter o meu rebanho durante um tempo razoável; se ele aumentasse poderia alargar a cerca.

Assim procedia com bom senso, e meti logo mãos à obra. Gastei cerca de três meses a fechar este primeiro couto e, durante esse intervalo, coloquei as três lamas no melhor sítio da pradaria, fazendo-as pastar o mais perto possível de mim, para que se familiarizassem. Ia frequentemente levar-lhes algumas espigas de cevada e de arroz, que comiam na minha mão.





Os capítulos deste livro