Robinson Crusoe - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 127 / 241

Assim, quando terminei a cerca e as soltei, seguiram-me por toda a parte balindo por um punhado de grão.

Tinha conseguido o que queria, e ao cabo de ano e meio reuni doze cabeças de gado, entre machos, fêmeas e cabritinhos; dois anos depois tive quarenta e seis, sem contar com as que matara para comer. Em seguida fiz outros cinco cercados para o pasto, preparando-lhes alguns pequenos sou tos para neles brincarem e eu podê-las apanhar comodamente, pondo portas de umas cercas para as outras a fim de irem pastar.

Mas isto não era tudo, pois então não só tinha quanta carne quisesse mas também leite, alimento no qual ao princípio não pensara, e que me causou uma agradável surpresa quando me veio à lembrança. Assim, estabeleci uma espécie de vacaria e as lamas chegavam a dar-me algumas vezes até cinco e dez litros de leite. Como a Natureza, ao proporcionar às criaturas os alimentos que lhes são necessários lhes mostra ao mesmo tempo os meios de fazer uso deles, embora nunca tivesse visto ordenhar vacas nem cabras, nem fazer queijo ou manteiga, cheguei, após muitas tentativas infrutíferas, a obter manteiga e queijo, artigos que daí em diante nunca mais me faltaram.

O homem mais sisudo ter-se-ia rido se, me visse comer, a mim e à minha pequena família. Ali se achava a minha majestade, o príncipe e senhor de toda a ilha: tinha direito de vida e morte sobre todos os meus vassalos; podia agarrá-los, abrir-lhes o ventre, dar-lhes e tirar-lhes a liberdade. Nos meus estados não havia rebeliões.

Tal como um rei, comia sozinho diante de toda a corte. «Poll»; como se fosse o meu favorito, tinha o privilégio exclusivo de me dirigir a palavra; o cão, já velho e resmungão, estava sempre sentado à minha direita; finalmente, os dois gatos punham-se nos extremos da mesa aguardando o bocado que a minha mão lhes dava de vez em quando como sinal de favor especial.





Os capítulos deste livro