Robinson Crusoe - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 150 / 241

Apenas deixei cinco na fortaleza, montados e assestados como canhões sobre a fortificação exterior e que também podiam servir nas minhas expedições.

Por motivo desta mudança, ocorreu-me abrir o barril de pólvora que salvara do mar, e que se tinha molhado. Vi que a água penetrara, pouco mais ou menos, a três ou quatro polegadas de profundidade, e que a pólvora molhada, ao secar, se tornara tão dura que formava uma espécie de cortiça, conservando o resto como uma fruta dentro da casca; de modo que encontrei cerca de sessenta libras de pólvora excelente no fundo do barril. Naquele momento esta era uma descoberta muito útil para mim. Deixei na fortaleza umas três libras, para me defender em caso de surpresa, levando a restante para a minha nova gruta, juntamente com todo o chumbo que tinha de reserva para fazer balas.

Nesta situação, comparei-me àqueles antigos gigantes que, segundo se diz, viviam em cavernas ou nas profundezas de rochas inacessíveis, estando persuadido de que, mesmo que os selvagens me aparecessem em número de quinhentos, não conseguiriam descobrir-me e que, além disso, não se atreveriam a atacar-me naquele sítio.

O velho bode moribundo morreu no dia seguinte, à entrada da caverna; pareceu-me melhor, em vez de atirá-lo fora, fazer uma escavação na gruta e enterrá-lo à maior profundidade.

Havia já vinte e três anos que residia na ilha, e estava tão acostumado ao meu modo de viver que, sem o temor dos selvagens, teria de boa vontade passado nela o resto da vida, até ao último momento, em que morreria na caverna como o velho macho. Tinha-me proporcionado também algumas distracções e diversões, que me faziam passar alguns bocados mais agradáveis do que antes. Primeiro, ensinei «Poll», o meu papagaio a falar, como já disse; este articulava tão distintamente e a sua linguagem era tão familiar que me causava um prazer extraordinário.





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