Robinson Crusoe - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 149 / 241

Plenamente tranquilizado, comecei a olhar à minha volta. Pareceu-me que aquela caverna, que tinha uns doze pés de extensão, era de forma irregular, nem redonda nem quadrada, pois apenas se via ali a mão da Natureza. Reparei também numa segunda abertura, mas tão baixa que só me foi possível entrar de rastos. E não tendo luz bastante, adiei a minha empresa, mas resolvi voltar no dia seguinte já com velas e uma pederneira para ferir lume que tinha tirado de um dos mosquetes da bateria por meio de um artifício que pusera na caçoleta.

Assim, voltei no dia seguinte apetrechado com seis grandes velas por mim fabricadas, pois já as fazia excelentes com gordura de lama; o pavio estava improvisado grosseiramente com trapos usados, velhos cabos de vela, ou filamentos de uma erva bastante parecida com a ortiga. Chegado que fui à estreita abertura, vi-me obrigado a andar de gatas cerca de quinze pés, o que, diga-se de passagem, era grande atrevimento meu, que Ignorava aonde conduzia a passagem e o que poderia encontrar no fim. Quando atravessei aquele desfiladeiro, Vi-me debaixo de uma alta abóbada com cerca de vinte pés, e então fui surpreendido com a visão do mais belo e maravilhoso espectáculo que alguma vez contemplara na ilha. As paredes e o tecto da caverna reflectiam de mil maneiras, e reproduziam com profusão, a luz das minhas duas velas. O que é que podia tornar aquela rocha tão brilhante? Eram talvez diamantes, pedras preciosas ou oiro? Não sei dizê-lo.

Fosse como fosse, era a mais deliciosa gruta que imaginar se possa, embora muito escura. O solo era plano e seco, coberto por uma areia fina e leve; não se viam ali animais asquerosos, nem qualquer indício de humidade; a única dificuldade estava na entrada, mas mesmo isso era uma coisa útil, por eu destinar a gruta a retiro e lugar de segurança. Assim, fiquei sumamente agradado com aquela descoberta, e resolvi mudar para a dita caverna tudo aquilo cuja conservação mais me preocupasse, principalmente a pólvora e as armas de reserva, isto é, duas escopetas de caça, das três que possuía, e três mosquetes, dos oito com que contava.





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