Robinson Crusoe - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 157 / 241

O mar estava agora completamente calmo, e eu sentia grandes desejos de aventurar-me a sair na piroga com o fim de visitar a embarcação, certo de que encontraria nela coisas úteis. Outra razão ainda mais me decidia: a ideia de que a bordo podia haver algum ser vivo a quem pudesse salvar, assegurando-me assim o mais doce consolo. Este pensamento fincava-se de um modo tão tenaz no meu coração que não tive descanso, nem de dia de noite, antes de pôr em execução o meu propósito. Sentia-me arrastado por um impulso demasiadamente poderoso para não acreditar que viesse do céu, e que seria culpado se o rejeitasse.

Dominado por esta impressão, voltei apressadamente para a fortaleza; preparei tudo o necessário para a viagem; levei uma boa quantidade de pão, um grande cântaro com água fresca, uma bússola para me orientar, uma garrafa de rum, do qual ainda tinha bastante quantidade, e uma cesta de uvas. Assim carregado com tudo quanto podia ser-me necessário, dirigi-me para a canoa; esvaziei a água que tinha dentro, lancei-a ao mar, depositei nela a minha carga e voltei em seguida para casa a buscar mais. Esta segunda carga compunha-se de um grande saco de arroz, do chapéu-de-sol para me abrigar tanto da chuva como do sol, de outro cântaro de água, de duas dúzias de pães ou tortas de cevada, e de uma garrafa de leite de lama e um queijo. Posto tudo isto na canoa, não sem muito trabalho, roguei a Deus que dirigisse a minha viagem, e meti-me a caminho. Remei ao largo da costa e cheguei à ponta que ficava na extremidade nordeste. Ali era preciso decidir-me ou não a lançar-me no oceano. As correntes rápidas que sempre reinavam a alguma distância dos dois lados da ilha recordaram-me os perigos que correra, e ainda me pareceram mais terríveis. Começou então a faltar-me a coragem, porque pensei que, se tivesse a desgraça de cair nalguma dessas correntes, seria arrastado pelo mar dentro e talvez perdesse a minha ilha de vista; e a canoa, demasiado frágil, soçobraria ao mínimo golpe de vento, sendo a minha perda inevitável.





Os capítulos deste livro