Robinson Crusoe - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 180 / 241

Disse-me que muito longe, por detrás da Lua (queria dizer a poente da Lua que devia ficar a oeste da sua terra), havia - e apontava os meus bigodes - homens brancos e barbudos como eu, e que estes tinham morto muitos homens.

Tratei de averiguar se conhecia algum meio de nos dirigirmos da ilha até onde estavam aqueles homens brancos, e retorquiu-me:

- Sim, sim, eu poder ir em duas canoas.

Não percebi ao princípio o que queria ele dizer, e o que entendia por duas canoas. Por fim, lá explicou com muito trabalho que queria dizer uma canoa tão grande como duas das outras.

Esta última parte do diálogo com Sexta-Feira causou-me uma grande alegria; e a partir desse momento alimentei a esperança de, mais cedo ou mais tarde, encontrar ocasião favorável para sair da ilha, contando, claro, com a ajuda do meu pobre selvagem.

Desde que Sexta-Feira se encontrava comigo, e tinha começado a falar e a compreender-me, não descurara de lhe assentar na alma os primeiros fundamentos dos conhecimentos religiosos. Um dia, entre outros, perguntei-lhe quem o havia criado. O pobre não me compreendeu; pensou que queria saber quem era o pai dele. Alterei a pergunta, e disse-lhe quem é que fizera o mar, a terra onde estávamos, os bosques e as colinas. Respondeu que fora um ancião chamado Benamuki, que existira antes de todas as coisas. Nada pôde dizer-me sobre este grande personagem a não ser que era muito velho, muito mais velho do que o mar e a terra, a Lua e as estrelas. Interroguei-o então por que razão aquele ancião, tendo feito todas as coisas da Terra, não era adorado por todas essas coisas. Ficou muito sério e disse-me com ar de simplicidade perfeita:

- Todas as coisas lhe chamam O!

- E os que morrem na tua terra vão depois para alguma parte? - perguntei-lhe.

Ele replicou:

- Sim, vão ter com Benamuki.

- E os que se comem também vão?

- Também - respondeu.

Aproveitei aquela ocasião para o instruir no conhecimento do verdadeiro Deus.





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