Robinson Crusoe - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 179 / 241

- Levam-nos para outro lugar, que é melhor. - Trazem-nos também para aqui?

- Oh!, sim, para aqui e muitas outras partes.

- Vieste já aqui com eles?

- Sim, eu vir aqui - disse, apontando com o dedo o norte da ilha, que era, quanto a mim, o seu lado predilecto.

Deduzi que o meu selvagem Sexta-Feira era dos que tinham o costume de desembarcar na extremidade da ilha, onde realizavam os seus festins humanos e, algum tempo depois, quando me aventurei a ir a esse mesmo lado com ele, logo reconheceu o local e me disse que tinha vindo um dia, e que haviam comido vinte homens, duas mulheres e uma criança. Não sabia como contar até ao número vinte em inglês, mas pôs outras tantas pedras alinhadas no chão, e suplicou-me que as contasse.

Fiz o relato do diálogo anterior porque tem a ver com o que se segue. Após a conversa com Sexta-Feira, perguntei-lhe que distância havia da ilha ao continente, e se na travessia as canoas alguma vez naufragavam. Respondeu-me que não havia nenhum perigo para as canoas; que um pouco mais adiante se encontrava um vento e uma corrente que iam num sentido de manhã e noutro à tarde.

Julguei ao princípio que se trataria apenas das mudanças das marés, mas logo compreendi que esse fenómeno era motivado pela força da corrente do caudaloso rio Orenoco, em cuja desembocadura ou golfo estava a minha ilha, e aquela terra que descobria a oeste e noroeste era a enorme ilha da Trindade, situada na ponta setentrional da embocadura do rio.

Fiz mil perguntas a Sexta-Feira acerca da terra, dos habitantes, do mar, da costa e dos povos vizinhos, e ele respondeu-me com a maior sinceridade imaginável. Perguntei-lhe a seguir os nomes dos povos vizinhos do seu, mas não pôde dar-me outro nome a não ser o de caribs, e deduzi que fossem os caraíbas, que os nossos mapas colocam na parte da América que se estende desde a embocadura do Orenoco à Guiana e até Santa Marta.





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