Robinson Crusoe - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 194 / 241

Obedeceu-me corajosamente. Então lancei-me para fora do bosque, e mostrei-me aos selvagens com Sexta-Feira, que me seguia. Assim que me apercebi de que me tinham visto soltei um grito terrível, ordenando a Sexta-Feira que fizesse o mesmo, e pus-me a correr com tanta precipitação quanta mo permitia o peso das minhas armas, direito à pobre vítima, que jazia, conforme disse, na areia, entre o lugar do festim e o mar. Os dois carniceiros que iam ocupar-se dele, abandonaram-no logo após o barulho da primeira descarga; fugiram assustadíssimos para a costa e saltaram para uma canoa, onde foram seguidos por outros três. Em seguida virei-me para Sexta-Feira e disse-lhe que os perseguisse e lhes disparasse para cima. Compreendeu-me imediatamente e, correndo um espaço de quarenta varas para se acercar deles, disparou. Ao princípio julguei que não deixara um sequer, pois caíram uns em cima dos outros na mesma canoa, apesar de logo ver que dois se levantavam com a maior prontidão. Sexta-Feira abatera dois no local e ferira um terceiro tão gravemente que permanecia como morto no fundo da piroga.

Enquanto Sexta-Feira fazia fogo, eu puxei pela faca e cortei os laços que prendiam a vítima. Quando lhe desatei os pés e as mãos, levantei-o e perguntei-lhe em português quem era. Respondeu-me em latim:

- Christianus.

Encontrava-se, contudo, tão débil e extenuado que mal podia falar e manter-se de pé. Tirei a garrafa do bolso e dei-lha, fazendo-lhe sinais para que bebesse, o que aconteceu; depois, ofereci-lhe um pedaço de pão que comeu. Então supliquei-lhe que me dissesse a que nação pertencia.

- Espanhol - respondeu-me.

Assim que recuperou um pouco, manifestou-me como pôde quanto me estava reconhecido por tê-lo salvo.

- Senhor - disse-lhe, recordando o que pude de espanhol -, depois falaremos; agora temos de lutar. Se se sente já com forças bastantes, pegue nesta pistola e neste sabre, e faça deles o uso que lhe parecer melhor.





Os capítulos deste livro