Robinson Crusoe - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 218 / 241

Enquanto assim preparávamos os nossos projectos, havíamos com todas as nossas forças transportado a chalupa mais para o interior da ilha, com o intuito de que a maré não a levasse; além disso, tínhamos feito no seu fundo um buraco suficientemente grande para não poder ser reparado com facilidade; achando-nos sentados na praia, pensando na resolução a tomar, ouvimos um tiro de canhão disparado do buque, e vimos ao mesmo tempo que faziam com o seu pavilhão o sinal do costume para chamar a chalupa para bordo. Mas a chalupa não se mexeu, e a gente do buque continuou a fazer disparos e a repetir os sinais.

Finalmente, quando viram que os sinais e os tiros de canhão eram inúteis e que a embarcação não aparecia, avistámos com o meu óculo de alcance que lançavam ao mar outra chalupa e que se dirigiam a remar para a praia; quando se acercou notámos que vinham nada menos de dez homens, providos de armas de fogo.

Como o buque se encontrava a quase duas léguas da margem, tivemos tempo de vê-los chegar e examinar os seus semblantes, porque tendo sido arrastados pela maré um pouco para leste da chalupa, costearam a praia para chegar até onde os outros tinham abordado.

O comandante conhecia a fundo, tanto física como moralmente, todos os tripulantes da chalupa. Três deles, dizia, eram rapazes muito honrados, que só a violência ou o medo tinham podido arrastar à cumplicidade com a conspiração; mas que, quanto ao segundo-contramestre, que parecia comandá-los, e a todos os outros, eram os maiores malvados de toda a tripulação, e não deixariam de levar a cabo com uma obstinação desesperada a sua empresa, temendo vivamente que fossem mais fortes que nós.

Repliquei-lhe, sorrindo, que as pessoas que se encontravam numa situação como a nossa deviam sobrepor-se ao medo e que, sendo quase todas as situações preferíveis à nossa, devíamos esperar que as consequências, quer fossem a vida ou a morte, equivaleriam à liberdade.





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