Reflecti durante algum tempo sobre tudo quanto o comandante me dissera, e achei muito justas as suas opiniões. Precisávamos de inventar depressa um ardil, tanto para atrair a gente do buque pela surpresa, como para impedi-la de desembarcar e de nos assassinar a todos.
De repente ocorreu-me que, não sabendo aqueles homens o que fora feito dos seus camaradas e da chalupa, não demorariam certamente a vir a terra na sua outra embarcação com o intuito de procurá-los, e que chegariam talvez armados e superiores em forças a nós, o que comandante achou muito provável.
Consequentemente, disse que a primeira coisa a fazer era pôr a chalupa, que estava em seco na praia, em condições de não a poderem levar, e apanhar tudo o que contivesse para a impossibilitar de navegar. Dirigimo-nos, pois, para ela, e retirámos as armas que tinham lá ficado e tudo o que encontrámos, isto é, uma garrafa de aguardente e outra de rum, algumas bolachas, um frasco de pólvora e um grande pilão de açúcar, que pesaria entre cinco e seis libras, envolvido num pedaço de pano de vela. O dito achado foi muito do meu agrado, sobretudo o açúcar e a aguardente, que havia já muitos anos que não provava.
Quando depositámos todos aqueles objectos na praia (os remos, o mastro, a vela e o leme tínhamo-los já tirado, conforme disse), fizemos um grande buraco no fundo da chalupa, a fim de que, se aparecessem em número suficiente para nos vencer, não a pudessem levar.
Para falar verdade, nunca pensei que conseguíssemos apoderar-nos e tornar-nos senhores do buque mas o meu propósito era, no caso deles partirem sem a chalupa, repara-la para que nos pudesse transportar para as ilhas Herward e recolher os meus amigos espanhóis, dos quais nunca me esquecia.