Robinson Crusoe - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 27 / 241

O outro animal, assustado sem dúvida com o fogo que vira e a explosão que ouvira, apressou-se a alcançar a margem, fugindo para os montes de onde ambos tinham vindo, sem que eu pudesse aperceber-me, devido à muita distância a que me encontrava dele, da espécie a que pertencia.

Notei que os negros sentiam vontade de comer a carne do leopardo, e como eu desejava atraí-los, indiquei-lhes por sinais que podiam ficar com ele. Depois de me haverem agradecido por meio de gestos muito expressivos, atiraram-se a ele e, embora não dispusessem de uma faca, despedaçaram, mesmo assim, o animal com um pedaço de madeira muito aguçado, do mesmo modo que nós o teríamos podido fazer com a melhor faca. Ofereceram-me uma parte mas recusei-a, dando-lhes a entender que estava sumamente satisfeito por lhes ter feito aquele presente, com a condição de que me reservassem a pele. Logo ma mandaram, juntando uma grande quantidade das suas provisões, as quais aceitei, embora me fossem desconhecidas. Depois disse-lhes por sinais que necessitava de água, mostrando-lhes uma das minhas pipas ou tonéis, pondo-a voltada para baixo a fim de lhes fazer ver que estava vazia e que desejava que a enchessem. Chamaram logo um dos seus e, em breve, vieram duas mulheres, as quais traziam uma grande vasilha de barro que parecia cozida ao sol. Puseram-na na areia e retiraram-se; o mesmo fizeram os que nos tinham trazido as provisões. As mulheres estavam completamente nuas, tal como os homens.

Achava-me agora fornecido de raízes, trigo bastante regular e água. Com estas provisões despedi-me dos meus amigos negros, fiz-me à vela e continuei a minha rota durante uns onze dias sem que se oferecesse qualquer motivo para me acercar da costa, até que divisei, quatro ou cinco léguas à minha frente, uma grande extensão de terra que se prolongava ao longe. Como estava uma grande calmaria, tratei de dobrar aquele promontório. Realizado isso, e achando-me a duas léguas da costa, descobri umas terras que se desenhavam no horizonte.





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