Robinson Crusoe - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 35 / 241

É preciso confessar que tal proposta teria sido muito vantajosa para um homem que não tivesse uma propriedade para cuidar como a minha, que prometia tanto e que possuía tão belas plantações. Mas eu, que já estava perfeitamente estabelecido, não precisava mais do que continuar três ou quatro anos como havia começado, e aumentar os meus fundos com as cem libras esterlinas depositadas em Inglaterra, que naquele espaço de tempo e com aquela pequena adição não podia deixar de possuir muito em breve três ou quatro mil libras esterlinas. Além disso, para mim, pensar em tal viagem era a maior loucura que em tais circunstâncias qualquer homem podia cometer.

Mas como nascera para lavrar a minha própria desdita, não pude resistir a tais ofertas tal como não pudera conter os meus primeiros projectos aventureiros, não fazendo caso dos bons conselhos do meu pai. Numa palavra, disse-lhes que partiria de boa vontade se quisessem encarregar-se de cuidar da minha plantação enquanto durasse a minha ausência, e de dirigi-la segundo as minhas ideias se me acontecesse alguma desgraça. Tendo aceitado esta obrigação, e depois de a legalizarem com as respectivas assinaturas, fiz testamento, instituindo meu herdeiro universal o comandante português que me salvara a vida, mas sob a expressa condição de que metade dos meus bens seriam para ele e de que mandaria a outra metade para Inglaterra.

Enfim, tomei todas as precauções imagináveis para a• conservação dos meus bens e para o bom cuidado da minha plantação. Se tivesse dedicado apenas uma parte daquela prudência ao estudo dos meus interesses e a pensar no que devia ou não devia fazer, nunca me teria afastado de um estabelecimento florescente para empreender uma viagem longa e perigosa que, além dos riscos habituais, também os possuía de carácter pessoal.

Mas arrastado pela paixão que me dominava, segui mais os meus gostos do que a razão.





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