Robinson Crusoe - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 37 / 241

Foi de parecer que estávamos perto dos 11 ° de latitude setentrional, mas que tínhamos uma diferença de 22° de longitude para oeste do cabo de Santo Agostinho e que, assim, havia dirigido o rumo para a costa da Guiana, no norte do Brasil, entre o rio Amazonas e o Orenoco, vulgarmente chamado Rio Grande. Perante isto, consultou-me sobre a rota que nos caberia tomar, pois o barco, avariado por ter lutado tantos dias contra o temporal, metia água, e o comandante era de opinião que devíamos alcançar o mais depressa possível a costa do Brasil.

A minha opinião era diferente. Consultei o mapa da América e deduzimos que a mais próxima terra habitada era o arquipélago das Caraíbas. Resolvemos, portanto, dirigir-nos para a Barbada, o que, alcançando o mar alto, para evitar a entrada do golfo do México, poderíamos fazer facilmente em quinze dias tendo em conta que não seríamos capazes de continuar a nossa viagem para a costa de Africa sem algum descanso, tanto para nós como para o buque, que não podia, sem ser reparado, ir até à costa de África.

Mudando, por conseguinte, a rota, dirigimos o rumo para NO, na esperança de chegar a uma qualquer ilha inglesa, onde contávamos ser socorridos; mas a nossa viagem estava destinada a outro fim; uma segunda tempestade acometeu-nos e arrojou-nos para oeste, para tão longe de qualquer caminho frequentado pelos povos civilizados que se, porventura, escapássemos aos perigos do mar, era mais do que provável sermos devorados por algum povo antropófago e não podermos regressar à nossa terra. Encontrávamo-nos naquele momento de angústia com o vento cada vez mais furioso quando, ao amanhecer, ouvimos um marinheiro que gritava:

- Terra!

E mal havíamos saído do camarote com a esperança de reconhecer o local em que estávamos, quando o barco chocou com a maior violência de encontro a um banco de areia; ficando assim encalhado, era açoitado pelo mar com tal fúria que julgámos morrer já ali e, portanto, refugiámo-nos no castelo de popa para nos pormos ao abrigo das ondas que varriam a embarcação.





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