Robinson Crusoe - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 38 / 241

Quem nunca se encontrou em situação tão desesperada não pode imaginar a consternação em que estávamos submersos. Ignorávamos para que terras nos tinha arrojado o furacão. Aquilo era uma ilha ou um continente, uma terra habitada ou um deserto? O vento, embora se tivesse acalmado um pouco, ainda soprava com tal força que não podia esperar-se que o buque fosse capaz de resistir alguns minutos mais sem se destroçar, a menos que surgisse, como que por milagre, uma calmaria. Ficávamos imóveis, olhando uns para os outros, aguardando a todo o momento a morte e preparando-nos para passar para a outra vida porque nos considerávamos já fora desta. A única coisa capaz de manter a nossa esperança foi vermos que, apesar de todos os receios, o buque ainda não se abrira e que o comandante dizia que o vento começara a acalmar.

Mas embora reconhecêssemos que, de facto, o vento estava menos forte, a embarcação achava-se demasiadamente encalhada na areia para poder voltar a flutuar outra vez. Encontrávamo-nos, pois, reduzidos a pensar só em salvar as nossas vidas. Antes de sermos acometidos pela tempestade, a nossa chalupa estava amarrada à popa, mas ao chocar de encontro ao leme havia-se destroçado e caíra ao mar; por esse lado não nos restava qualquer esperança. Ficara apenas uma chalupa a bordo mas a questão era saber de que meio nos haveríamos de servir para a lançar à água. Entretanto não se podia hesitar porque pensávamos que o buque se ia abrir de um momento para o outro, e alguns marinheiros diziam até que se estava já a abrir.

Nesta situação, graças aos esforços do contramestre e dos marinheiros, a chalupa foi descida ao longo da embarcação e, entrando todos nela, em número de onze, abandonámo-nos à mercê da Providência e do mar agitado porque, embora o furacão tivesse diminuído consideravelmente, o oceano ainda arrojava contra a praia ondas altas e temerosas.





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