Robinson Crusoe - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 54 / 241

A sua situação era a NNO da colina, o que me punha ao abrigo do calor até o sol chegar ao SO, ou perto dele, pois naqueles climas, ' pouco mais ou menos, atinge este ponto à hora do ocaso.

Antes de armar a tenda tracei em frente do buraco do penhasco um semicírculo, cujo raio media coisa de dez varas e, por conseguinte, vinte de diâmetro. Cravei naquele semicírculo duas fileiras de fortes estacas, enterrando-as no solo até adquirirem a firmeza de pés direitos, de modo que a sua extremidade mais grossa ficasse uns cinco pés e meio fora do solo. As duas paliçadas estavam a distância de seis polegadas uma da outra.

Em seguida peguei nuns pedaços do cabo e coloquei-os em filas, uns por cima dos outros, nos espaços que ficavam livres entre as duas fileiras de estacas, até à altura da paliçada; depois, acrescentei outras estacas, que tinham cerca de dois pés e meio, apoiadas às primeiras como os parapeitos de um forte; e assim imaginei que aquela obra era tão segura que nenhum homem ou animal poderia forçá-la ou escalá-la. Gastei muito tempo e trabalho em acabamentos, sobretudo a cortar as estacas no bosque, a transportá-las e a espetá-las no solo.

Para penetrar no recinto construí não uma porta mas uma pequena escada de mão, com a qual passava por cima das fortificações e que, depois de estar lá dentro, retirava. Defendido desta maneira contra todos os perigos - pelo menos assim o julguei -, dormi em segurança' durante a noite, o que não teria podido fazer de outro modo mesmo que, como vi mais adiante, aquelas preocupações fossem inúteis para me livrar dos inimigos que tinha.

Para a trincheira ou fortaleza transportei os víveres, as munições e, numa palavra, todas as minhas riquezas. Armei uma tenda espaçosa, que, para ficar ao abrigo das abundantes chuvas daquela região durante certa temporada do ano, fiz dupla; quer dizer, construí outra maior por cima dela e cobri a exterior com uma tela alcatroada que tinha salvo com o velame.





Os capítulos deste livro