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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 79
Quando despertei, já a noite ia avançada, senti-me aliviado, mas muito fraco e com muita sede; como, porém, não tinha água em casa, forçoso me foi aguardar a manhã, e voltei a adormecer.

Tive, então, um sonho terrível: parecia-me que estava sentado no chão perto da minha paliçada, no mesmo sítio em que me encontrava quando do furacão, que se seguiu ao tremor de terra. Um homem descia direito a mim, colocado no centro de uma espessa nuvem no meio de um torvelinho de fogo. Espalhava em redor um brilho tão deslumbrante que mal se podia olhar para ele. Quando os seus pés tocaram a terra pareceu-me que tudo estremecia como durante o terramoto; o ar dir-se-ia sulcado de raios...

Assim que tocou na terra, dirigiu-se-me com o semblante ameaçador e, armado com uma lança comprida, detendo-se numa saliência situada a alguns passos de distância, disse-me com voz sonora estas palavras que me causaram um espanto indizível:

- Já que todos os teus padecimentos não bastaram para te arrependeres, vais morrer!

Depois de dizer isto, imaginei que erguia a lança para me ferir.

Ninguém pode imaginar o que ocorreu no meu íntimo naquele instante. Embora não passasse de um sonho, foram tão vivos os efeitos que os experimentei como se fossem realidade; é-me impossível descrever a impressão que me ficou quando, ao acordar, reconheci que aquilo não fora mais do que um sonho.

Faltava-me, ai de mim!, instrução religiosa: as excelentes lições dadas por meu pai havia-as eu olvidado em oito anos consecutivos de uma vida desregrada de amizades íntimas com pessoas incrédulas e depravadas como eu. Não me lembro de ter tido, durante todo esse tempo, um único pensamento que me elevasse a Deus.

É certo que quando me encontrei nesta praia, e sendo o único sobrevivente de toda a tripulação, experimentei uma espécie de êxtase que, se Deus me tivesse ajudado com a sua graça, teria talvez mudado num acto de reconhecimento piedoso; mas isso não passou de um fervor passageiro: considerando-me ditoso por viver, não atribuí tal felicidade à mão divina que me salvara quando todos os demais haviam perecido.

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Capa do livro Robinson Crusoe
Páginas: 241
Página atual: 79

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 30
Capítulo 3 41
Capítulo 4 53
Capítulo 5 63
Capítulo 6 78
Capítulo 7 91
Capítulo 8 112
Capítulo 9 133
Capítulo 10 167
Capítulo 11 197
Capítulo 12 236