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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 80
Não pensei inquirir dos motivos pelos quais a Providência me tinha sido tão favorável; parecia-me nisto com os marinheiros que, depois de escaparem a um naufrágio, afogam a lembrança num copo de ponche. Assim decorrera a minha vida.

Muito embora o terramoto seja um acontecimento terrível, revelação característica desse poder invisível que dirige todas as coisas, mal passou o primeiro susto não mais me lembrei de Deus e da sua acção directa sobre o meu destino, como se me tivesse encontrado na mais próspera das situações. Mas agora, ao cair doente, quando a morte se me apresenta com o seu aspecto aterrador, quando as forças começam a sucumbir com a violência da febre, a minha consciência, adormecida durante tanto tempo, desperta e deita-me à cara as desordens da minha vida passada, que atraíram sobre mim a justiça divina e me entregaram à sua justa vingança.

Recordo agora os bons conselhos do meu pai. A justiça divina alcançou-me e não tenho ninguém que me auxilie ou me oiça. Desconheci a voz da Providência, que me havia colocado felizmente numa situação em que podia viver tranquilo e ditoso, mas da qual não tinha querido reconhecer as vantagens, apesar dos esforços dos meus pais; deixei-os, então, lamentar as minhas loucuras, e agora eu próprio deploro as suas consequências. Recusei o socorro que me ofereciam para entrar no mundo, e hoje tenho que combater as dificuldades que nem a natureza podia vencer; estou sem apoio, sem consolo, privado de conselhos. Então, tornei a exclamar:

- Senhor, livrai-me da aflição em que estou metido! Esta foi a primeira oração, se assim se pode chamar, que fiz desde há muitos anos. Mas tornemos ao meu diário.

28 de Junho. - Um pouco aliviado pelo sono e livre do acesso de febre, levantei-me. E embora a lembrança do meu horrível desvario ainda me perseguisse, reflecti, apesar disso, que a temperatura voltaria no dia seguinte, e que era preciso aproveitar a calma em que me achava para arranjar algum sustento e alívio para quando me encontrasse pior.

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Capa do livro Robinson Crusoe
Páginas: 241
Página atual: 80

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 30
Capítulo 3 41
Capítulo 4 53
Capítulo 5 63
Capítulo 6 78
Capítulo 7 91
Capítulo 8 112
Capítulo 9 133
Capítulo 10 167
Capítulo 11 197
Capítulo 12 236