Novas penas devem agora meus versos contar, e sejam os submersos a matéria do vigésimo canto deste poema primeiro. Eu estava já completamente em posição de observar o fundo descoberto, banhado em angustioso pranto, e vi gente vir pelo fosso redondo, em silêncio chorando, no passo que é o das procissões no nosso mundo.
Quando baixei o rosto para os ver, deparou-se-me com estranheza que cada um deles parecia ao contrário estar de queixo até ao começo do peito, de tal modo que o rosto tinham voltado para as costas e era mister que para trás andassem, pois lhes era impossível verem para diante. Talvez por qualquer paralisia alguém possa ficar assim completamente torto, mas nunca tal eu vi nem creio que exista.
Se Deus te permitir, leitor, desta lição colher fruto, pensa, por ti mesmo, como poderia eu enxutos ter os olhos quando diante de mim vi uma imagem nossa tão torta que as lágrimas rolavam até ao rego que as nádegas divide. Chorava, pois, numa das rochas da dura escarpa apoiado, de modo tal que me disse o meu guia: «Também tu és como os outros ignorantes? Aqui vive a piedade quando morta estar Quem é mais celerado do que aquele que com paixão encara o juízo divino? Levanta a cabeça, vá, e olha aquele ante o qual se abriu a terra aos olhos dos Tebanos, pelo que todos lhe gritavam: 'Onde cais, Anfiarau? Porque abandonas a luta? E não parou de cair até chegar diante de Minos, que de todos se apodera. Repara que as costas em peito se lhe transformaram e, porque demasiado em frente pretendia ver, agora olha para trás e para trás caminha. Vê Tirésias, que mudou de aspecto quando de homem em mulher se transformou, alterando-se todos os seus membros, e a seguir teve de bater nas serpentes enroscadas, com o bordão, para reaver os masculinos pêlos.
