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Capítulo 33: Capítulo 33

Página 97

Aquele pecador ergueu a boca da repelente comida, limpando-a com os cabelos da cabeça que por detrás tinha roído. Depois começou a dizer: «Queres que eu renove a desesperada dor que o coração me oprime com a simples lembrança, antes mesmo que eu fale. Porém, se as minhas palavras devem ser somente que de infâmia dê frutos para o traidor que devoro, ver-me-ás falar enquanto ao mesmo tempo choro. Não sei quem és nem de que modo até aqui desceste; mas, pelo que ouço, florentino deveras me pareces. Deves saber que fui o conde Ugolino, e este Ruggieri, o arcebispo, e agora te direi porque dele sou vizinho tal. Que, por efeito dos seus maus pensamentos, nele confiando, acabei por ser preso e depois morto, não será mister que te diga; porém, o que não podes ter sabido é como a minha morte foi cruel. Isso ouvirás e saberás assim se me ofendeu. Um estreito buraco no interior da torre, que em memória minha se chama da fome e no qual outros deverão ser ainda encerrados, mostrara-me pela sua abertura já diversas luas, quando tive o sonho mau que o véu do futuro me rasgou. Este pecador aparecia-me como dono e senhor, caçando o lobo e os lobinhos do monte que não deixa os pisados avistarem Luca. Como cães esfaimados, ágeis e bem amestrados, Gualandi com Sismondi e com Lanfranchi trazia à sua frente. Ao fim de pequena caçada, pai e filho me pareceram cansados e com as agudas mandíbulas se me afigurava ver esfacelarem-lhes os Bancos.

Quando acordei, antes do amanhecer, ouvi durante o sono chorarem meus filhos, que comigo estavam, e pedirem-me pão. Bem cruel serás, se não te condóis desde já, pensando no que o meu coração prenunciava; e, se isto te não faz chorar, o que será então capaz de o fazer? Já estavam acordados e aproximava-se a hora em que a comida costumava ser-nos dada, mas cada um duvidava, em virtude do sonho que tivera. Ouvi em baixo fecharem a porta da terrível torre e então contemplei as caras dos meus filhos sem dizer palavra. Eu não chorava, a tal ponto putrificado me sentia por dentro, mas choravam eles, e o meu Anselmuccio disse: «Que tens, pai, para nos olhares assim?» Não chorei, porém, nem respondi coisa nenhuma em todo aquele dia ou na noite que se lhe seguiu, até que um outro sol saiu ao mundo.

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Capa do livro Inferno
Páginas: 102
Página atual: 97

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 10
Capítulo 5 13
Capítulo 6 16
Capítulo 7 19
Capítulo 8 22
Capítulo 9 25
Capítulo 10 28
Capítulo 11 31
Capítulo 12 34
Capítulo 13 37
Capítulo 14 40
Capítulo 15 43
Capítulo 16 46
Capítulo 17 49
Capítulo 18 52
Capítulo 19 55
Capítulo 20 58
Capítulo 21 61
Capítulo 22 64
Capítulo 23 67
Capítulo 24 70
Capítulo 25 73
Capítulo 26 76
Capítulo 27 79
Capítulo 28 82
Capítulo 29 85
Capítulo 30 88
Capítulo 31 91
Capítulo 32 94
Capítulo 33 97
Capítulo 34 100