Seguimos então por uma das margens firmes e o vapor do riacho formava nuvens que protegiam a água e as margens do fogo. Tal como os Flamengos, entre Gand e Bruges, temendo a fúria do mar que contra eles se atira, constroem diques para as águas deterem e tal como os Paduanos, ao largo do Brenta, o fazem para suas cidades e castelos defenderem antes que o Chiatentana' o calor sinta, à sua imagem eram os que vi feitos, embora não tão altos nem tão grossos, fosse quem fosse o mestre que estes construíra.
Estávamos tão longe já da selva, que não poderia ver onde ela era, mesmo que para detrás me voltasse, quando se nos deparou um grupo de almas que ao longo do dique caminhava e cada uma delas nos olhava como costuma olhar-se uma pessoa com lua nova à noite, franzindo as sobrancelhas para melhor nos verem, como o alfaiate velho a distinguir o buraco da agulha. Assim examinado por tal grupo, fui reconhecido por um deles, que pela túnica me agarrou, gritando: «Oh, maravilha!» E eu, quando para mim estendeu o braço, tanto o olhar fixei no seu rosto crestado, que nem a face queimada me impediu a memória de o reconhecer. Apalpando-lhe a face com a mão, perguntei: «Estais aqui, Messer Brunetto», E ele respondeu: «O filho meu, permite que Brunetto Latini um pouco se atrase junto a ti e deixe avançar a sua companhia.» Ao que Ihe disse: «Por tudo vo-lo peço e, se quereis que convosco me sente, de vontade o farei, com permissão deste com quem vou.» «Filho», disse, «quem quer que desta grei um pouco se detenha, jaz depois cem anos sem poder proteger-se quando o fogo o flagelar. Segue, pois, que eu te irei acompanhando e me reunirei depois ao meu rebanho, que as penas eternas vai chorando.»