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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 37

Não chegara ainda Nesso àquela margem, quando entramos num bosque onde não havia traçado um só caminho. Não era verde a folhagem, mas sim de cor baça. Os ramos não eram simples, mas retorcidos e cheios de nós. Não havia frutos, mas só espinhos e veneno. Não vivem entre moitas tão densas e agrestes as feras selvagens que, entre Cecina e Corneto, infestam os locais cultivados. Aqui fazem ninho as Harpias odiosas que das Estrófades expulsaram os Troianos com o prenúncio de males futuros. Têm grandes asas e pescoço e rosto humanos; nos pés possuem garras e penas nos ventres obesos e soltam lamentos das suas árvores estranhas.

O bom mestre começou a dizer-me: «Antes de mais dentro penetrares, quero que saibas que estás no recinto segundo e nele te manterás até que o horrível areal avistes; mas observa bem, pois verás coisas que nas palavras minhas te farão acreditar.» Eu ouvia já de todas as partes lamentos terríveis, mas não via ninguém que os soltasse, pelo que me detive, confundido. Julgo que ele julgou que eu julgava que tais vozes, dentre os troncos saídas, proviessem de alguém que de nós se escondia, pelo que me disse: «Se quebrares um ramo de uma destas plantas, assim se quebrarão os teus pensamentos.» Estendi então a mão um pouco para diante e colhi um pequeno ramo de um grande espinheiro, e o tronco gritou: Porque me mutilas tu?» Depois, tingindo-se de sangue escuro, recomeçou gritando: «Porque me quebras? Não tens sentimento algum de piedade? Fomos homens e em moitas fomos transformados. Mais misericordiosa devia ser a tua mão, fôssemos nós mesmo almas de serpentes.»

Como a madeira verde por um extremo arde e pelo outro assobia e geme, com o ar que a atravessa, assim do tronco quebrado juntamente saíram palavras e sangue, de modo que o deixei cair e me detive, como que acobardado. «Se ele pudesse ter acreditado antes», disse o meu sábio, «alma ferida, no que já nos meus versos lerá, para ti não teria sequer estendido a mão; mas o que o facto tem de incrível fez-me induzi-lo a um acto que a mim próprio pesa. Diz-lhe, porém, quem foste, para que, à guisa de alguma compensação, renove a tua fama no mundo lá de cima, ao qual tem o privilégio de voltar.»

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Capa do livro Inferno
Páginas: 102
Página atual: 37

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 10
Capítulo 5 13
Capítulo 6 16
Capítulo 7 19
Capítulo 8 22
Capítulo 9 25
Capítulo 10 28
Capítulo 11 31
Capítulo 12 34
Capítulo 13 37
Capítulo 14 40
Capítulo 15 43
Capítulo 16 46
Capítulo 17 49
Capítulo 18 52
Capítulo 19 55
Capítulo 20 58
Capítulo 21 61
Capítulo 22 64
Capítulo 23 67
Capítulo 24 70
Capítulo 25 73
Capítulo 26 76
Capítulo 27 79
Capítulo 28 82
Capítulo 29 85
Capítulo 30 88
Capítulo 31 91
Capítulo 32 94
Capítulo 33 97
Capítulo 34 100