Tão alheios sois no fundo da vossa alma à grandeza, que o super-homem se vos afigura terrível em sua mesma bondade»...
Deve ter-se em conta este passo e outros análogos para compreender o que pretende Zaratustra. A espécie de homens que visiona tem força bastante para poder conceber a realidade «tal qual é». A realidade não lhe aparece como estranha e remota, ela mantêm-se semelhante a si mesma, encerra em si própria tudo quanto o existir e o ser têm de terrível e de problemático, porque «só nessa condição pode o homem alcançar a grandeza».
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Com outro intento ainda escolhi a palavra imoralista: como sinal e insígnia de mim próprio. Sinto-me orgulhoso de usar essa designação que me põe em contraste com a humanidade inteira. Ninguém ainda considerou a moral cristã como alguma coisa de inferior a si próprio: isso requer elevação, golpe de vista para o porvir e profundidade psicológica tais quais nunca se viram. Foi até hoje a moral cristã a Circe de todos Os pensadores - todos eles se puseram ao seu serviço.
Quem desceu então antes de mim àquelas cavernas de onde provém o sopro pestilento desta espécie de ideal- o ideal dos caluniadores do mundo? Quem ousou suspeitar sequer de tais cavernas? Quem foi, antes de mim, e entre filósofos, um «psicólogo», e não o oposto do psicólogo, um «charlatão superior», um «idealista»? Antes de mim não houve a sério psicologia.
Vir, neste ponto, primeiro, pode ser maldição, e é, de qualquer modo, uma fatalidade: pois é também enquanto primeiro que se despreza... O «nojo» do homem, eis o meu perigo.
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Acaso me compreenderam? - O que me situa à parte de todo o resto da humanidade é ter descoberto a moral cristã. Eis porque eu carecia de palavra que em si abrangesse o sentido de um desafio lançado a todos e a cada um dos homens.