Ecce Homo - Cap. 15: Por que sou uma fatalidade Pág. 113 / 115

de um «espírito», para se fazer perecer o corpo; ensinou-se a ver nas condições primeiras da vida, na sexualidade, qualquer coisa de impuro; na mais profunda necessidade de crescimento, no obsessivo amor de si próprio (já a palavra por si é insultuosa!) procurou-se denunciar um mau princípio; pelo contrário, no sinal típico da degenerescência e da contradição dos instintos, no «desinteresse», na perda de pontos de apoio, na impersonalidade e no amor do próximo, vê-se o valor superior, que digo?, o valor por excelência... Como? Estaria a própria humanidade em decadência? Esteve-o sempre? Certo é que com o nome de valores superiores só lhe apresentaram valores de decadência. A moral da renúncia é essencialmente moral de degenerescência. Ela consiste na afirmação: «Vou perecer», traduzi da neste imperativo: «Vós todos deveis perecer» - e não só traduzido em imperativo... Esta moral, única que até hoje se ensinou, moral da renúncia, vontade 'de aniquilamento, nega até aos mais remotos fundamentos da vida.

Aqui permanece aberta a possibilidade de não ser a humanidade que está em degenerescência, mas apenas uma espécie parasita de homens, a dos «padres», que, conseguindo o lugar de árbitros dos valores morais, se serviam da moral cristã para se apoderarem do poder. E de facto, a minha convicção é esta: os mestres, os condutores da humanidade foram todos teólogos e todos decadentes: nasce daqui o triunfo de todos OS valores em oposição contra a vida, nasce daqui a moral..; Definição da moral: Moral - a idiossincrasia do decadente, com a intenção secreta de se vingar da vida - intenção essa que resultou. Atribuo valor a esta definição.

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Compreenderam-me? Não disse aí uma palavra que não tivesse já dito há cinco anos pela boca de Zaratustra.





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