Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: Porque sou tão sagaz

Página 37
Hierarquia das faculdades, distância, arte de distinguir sem opor, nada misturar, nada «conciliar», prodigiosa multiplicidade que, no entanto, é o contrário de um caos - tal foi a condição preliminar o estrénuo e secreto labor e dom artístico do meu instinto. Sua superior garantia mostrou-se tão forte, que eu em momento algum suspeitei do que se preparava em mim, surgindo todas as minhas faculdades um dia amadurecidas e na última perfeição.

Não tenho memória de que me haja alguma hora aplicado com esforço fosse ao que fosse, não se encontra na minha vida sinal de luta: sou o contrário de uma natureza obstinada. «Querer» uma coisa, «esforçar-se» por uma coisa, ter diante dos olhos um «fim», um «propósito», são estados que por própria experiência não conheço. Neste mesmo momento lanço o olhar para o meu porvir - como quem contempla um mar em calmaria: desejo algum nele se encrespa. Não quero de forma alguma que qualquer coisa, seja o que for, seja diferente do que é; eu próprio não quero ser diferente do que sou... E assim sempre vivi. Não tenho desejos. Sou alguém que aos quarenta e quatro anos pode dizer que nunca buscou «honras», «mulheres» ou «dinheiro»! Não digo que estas coisas me tenham sempre faltado. Assim, por exemplo, fui um dia professor da Universidade; nunca, de longe sequer, pensara sê-lo, pois tinha apenas vinte e quatro anos quando o fui. Assim, dois anos antes, fui um dia filósofo: no sentido de que o meu primeiro trabalho filológico, uma iniciação em todo, o sentido, foi solicitado por Ritschl, para ser publicado no seu Museu Renano, Ritschl, e digo-o com veneração, foi o único sábio de génio que até hoje encontrei. Possuía aquela agradável depravação... que distingue os que nascemos na Turíngia, e que torna até simpático um alemão: para chegar à verdade preferimos muita vez os caminhos ínvios.

<< Página Anterior

pág. 37 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro Ecce Homo
Páginas: 115
Página atual: 37

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇAO 1
Porque sou tão sábio 5
Porque sou tão sagaz 20
Porque escrevo tão bons livros 41
A Origem da Tragédia 52
Considerações intempestivas 58
Humano, demasiado Humano 64
Aurora 71
O Alegre Saber 75
Assim falou Zaratustra 76
Para além do Bem e do Mal 91
Genealogia da moral 93
Crepúsculo dos ídolos 95
O caso Wagner 98
Por que sou uma fatalidade 106