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Para dar ideia de mim como psicólogo, reproduzirei um curioso fragmento de psicologia do meu Para além do Bem e do Mal, contra-indicando qualquer precária conjectura sobre o que descrevo neste passo: «O génio do coração, tal-qual o possui aquele grande desconhecido, o deus tentador, o caçador de ratas de consciência, cuja voz sabe descer até ao mundo subterrâneo de cada alma, não dizendo uma palavra nem lançando um olhar em que não vá envolta uma intenção e um oculto pensamento sedutor, no qual o saber atrair é parte da sua mestria, formando parte desta não tanto a ciência, mas sim o que para quantos o seguem é uma persuasão mais para acercar-se dele, para o seguir cada vez mais completamente, mais intimamente... O génio do coração, que força ao discreto silêncio ou força a escutar todos os seres fúteis e vaidosos, que apura as almas rudes e lhes dá o gosto de um novo desejo; o de se manterem calmas, como um espelho, para que nelas se possa reflectir o céu profundo.