Ecce Homo - Cap. 4: Porque escrevo tão bons livros Pág. 50 / 115

No fundo, as emancipadas são as anárquicas no mundo 'do «eterno feminino», as estéreis, nas quais o mais fundo instinto é a vingança... Espécie péssima de idealismo, que, aliás, se observa também entre os homens, por exemplo em Henrique Ibsen, essa típica velha solteirona que se propôs envenenar a boa consciência do amor sexual… E para não deixar dúvidas sobre a minha orientação, neste ponto tão severa como honesta, quero expor uma tese tirada do meu código moral contra o vício. Sob o nome de vício, combato qualquer espécie de acto contra a natureza ou se se prefere uma palavra bonita, combato o Idealismo. Eis a tese: «A pregação da castidade é excitação pública contra a natureza. Todo o desprezo da vida sexual, toda a sua adulteração através da noção de «impurezas» constitui delito de lesa-vida, verdadeiro pecado contra o espírito santo da vida.»

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Para dar ideia de mim como psicólogo, reproduzirei um curioso fragmento de psicologia do meu Para além do Bem e do Mal, contra-indicando qualquer precária conjectura sobre o que descrevo neste passo: «O génio do coração, tal-qual o possui aquele grande desconhecido, o deus tentador, o caçador de ratas de consciência, cuja voz sabe descer até ao mundo subterrâneo de cada alma, não dizendo uma palavra nem lançando um olhar em que não vá envolta uma intenção e um oculto pensamento sedutor, no qual o saber atrair é parte da sua mestria, formando parte desta não tanto a ciência, mas sim o que para quantos o seguem é uma persuasão mais para acercar-se dele, para o seguir cada vez mais completamente, mais intimamente... O génio do coração, que força ao discreto silêncio ou força a escutar todos os seres fúteis e vaidosos, que apura as almas rudes e lhes dá o gosto de um novo desejo; o de se manterem calmas, como um espelho, para que nelas se possa reflectir o céu profundo.





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