Ecce Homo - Cap. 10: Assim falou Zaratustra Pág. 81 / 115

relações, um vasto mundo de formas - pois a necessidade de ritmo largo constitui quase só por si a medida do poder de inspiração e é uma forma (de alívio para a alma opressa e para a tensão incomportável.

Tudo isto ocorre no mais alto grau de atonia da nossa liberdade, como que numa torrente de embriaguez, de liberdade que nos ultrapassa, de aniquilamento, de poder que nos transcende, de comunhão divina... O mais estranho é o carácter de necessidade da imagem e da metáfora; perde-se todo o sentido do que uma e outra são; oferecem-se-nos como a expressão mais directa, mais justa, mais simples. Dir-se-ia, na verdade, conforme a palavra de Zaratustra, que as coisas vêm por si até nós, desejosas de converter-se em símbolos (- «eis como acorrem todas as coisas cheias de amor e de ternura pedindo a tua palavra e o teu discurso: querem voar levadas por ti. E através de cada símbolo voas tu para cada verdade. Eis que se abrem para ti todos os sentidos da palavra; e todo o ser se converte em palavra e tudo quanto existe quer através de ti alcançar o segredo da palavra» -). Eis a minha experiência da inspiração; e não duvido de que se teria de recuar milhares de anos para encontrar alguém com o direito de dizer: «é também a minha».

4

Estive umas poucas se semanas doente em Génova.

Seguiu-se uma Primavera tristonha em Roma, onde me limitava a• aceitar a vida - o que não era coisa fácil. No fundo, aquela região, que 'eu não tinha escolhido, era a mais imprópria possível para o poeta do Zaratustra: Tratei de libertar-me desse ambiente e decidi voltar a Aquila, cidade que encarna uma ideia contrária a Roma e que foi fundada por ódio contra Roma, tal como eu próprio hei-de fundar uma outra em- 'memória desse ateu ou inimigo da Igreja comme il faut, com o qual me sinto ligado por muito próximo parentesco, o grande imperador Hohenstaufen, Frederico II.





Os capítulos deste livro