«É noite: quando falam mais alto as nascentes.
E também a minha alma é uma nascente.
É noite: é a hora a que se elevam todos os cantos dos namorados. E também a minha alma é um canto de amor.
Alguma coisa de insatisfeito, de para sempre insatisfeito, quer traduzir-se em alta voz. Um desejo de amor está em mim que espontaneamente fala na linguagem do amor.
Sou Luz: ah, se fosse Noite! A minha solidão consiste, porém, justamente em estar circundado de luz.
Ah! Não ser eu sombra e treva! Como então sugaria nos seios da luz!
E bendizer-vos-ia a vós, a vós, pequenos astros rutilantes vermes da luz celeste! - e ser-vos-ia grato da luz que me désseis...
Eu porém vivo na minha própria luz, e sorvo as chamas que do meu ser emanam.
Ignoro o prazer dos que recebem; e sonhei, tantas vezes, que roubar era volúpia maior do que aceitar...
Tal é a minha pobreza, que esta mão nunca em dar tem descanso, tal a minha cobiça, que os meus olhos estão escancarados de expectativa e as noites se me iluminam de ansiedade.
Infelizes, os que dão! Oh, obscurecer de todo o sol!
Oh, desejar ansioso. Oh, fome devoradora na própria saciedade!
De mim recebem os que têm: mas entro acaso em relação com as suas almas? Entre dar e receber medeia um abismo; e o mais pequeno abismo é o mais difícil de preencher.