E noite: agora se eleva mais alta a toada das fontes rumorosas. E também a minha alma é fonte rumorosa. ,Ê noite: é a hora em que surgem todas as canções do amor. E também a minha alma é uma canção de amor.»
8
Nunca tais coisas foram escritas, nem sentidas, nem sequer sofridas: assim sofre um Deus, um Diónisos. A resposta a tal ditirambo no qual se glorifica a solidão do sol em plena luz poderia ser dada por Ariadna?... Mas quem sabe, com excepção de mim próprio, quem é Ariadna? Ninguém pôde, até hoje, dar a chave de todos estes enigmas; duvido sequer de que alguém visse aí enigmas.
Zaratustra com rigor indica num ponto toda a sua tarefa - que é também a minha - para que ninguém possa equivocar-se sobre o seu rigoroso sentido: Zaratustra é afirmativo até à justificação e até mesmo ao resgate de todo o passado.
«Caminho entre os homens, como entre fragmentos de futuro, daquele futuro que já contemplo.
E está todo o meu poder e todo o meu afã em ligar e correlacionar tudo quanto aparece como fragmento e enigma e acaso terrível.
E como suportaria eu ser homem, se ao homem não fosse também dado ser poeta, decifrador de enigmas, redentor do acaso?
Redimir todo o passado e transformar «tudo o que foi» num «que devia ser», é isso só que eu poderia chamar «redenção».
Noutro trecho, determinou Zaratustra tão rigorosamente quanto possível o que, para ele, pode unicamente ser «o homem»: de nenhum modo objecto de dor ou de piedade. Zaratustra dominou a grande náusea que o homem lhe inspira: o homem é para ele coisa informe, matéria, pedra que carece de estatuário.
«Ter deixado de querer, de valorar e de criar! Oh, que este grande cansaço permaneça sempre longe de mim!
Também no conhecimento sigo apenas o prazer do querer, do gerar e do dever; e se há inocência no meu conhecimento, é porque há nele vontade de gerar.