Ela não resistiu por um momento, embora se sentisse amedrontada ao vislumbrar-lhe o semblante tão perto, pálido, estranho, alterado, envolto em intensos eflúvios alcoólicos. Por fim, começou a debater-se e virou a cara para o lado, pelo que ele passou a beijar-lhe apenas o cabelo e o pescoço.
- Pára com isso, Gordon!
- Porquê?
- Que pretendes fazer?
- Que achas?
Ele impeliu-a contra a parede e, com os movimentos cuidadosos e preocupados de um bêbedo, tentou desabotoar a frente do vestido. No entanto, era um modelo que não tinha botões naquela área, como acabou por descobrir. Desta vez, ela irritou-se e lutou com violência, afastando-lhe a mão com um gesto brusco.
- Pára já com isso!
- Porquê?
- Se repetes, levas uma bofetada!
- Uma bofetada! Não armes em menina recatada comigo.
- Larga-me, ouviste?
- Pensa em domingo passado - sugeriu ele, numa inflexão lúbrica.
- Se continuas assim, bato-te, palavra de honra!
- Não eras, capaz.
Gordon introduziu a mão na gola do vestido. O movimento era curiosamente brutal, como se se tratasse de uma estranha, como ela depreendeu da expressão do rosto. Já não a considerava a sua Rosemary, mas apenas uma rapariga, um corpo de mulher. A descoberta perturbou-a e esforçou-se por se soltar, acabando por consegui-lo. Ele voltou, porém, à carga e segurou-lhe o braço.
Ela esbofeteou-o tão violentamente quanto pôde e tornou a esquivar-se.
- Por que fizeste isso? - bradou ele, sentindo o impacto, mas sem se mostrar magoado.
- Não te admito essas liberdades. Vou para a pensão. Amanhã serás diferente.
- Nem pensar! Vens comigo. Havemos de dormir juntos.
- Boa noite! - retorquiu ela, e começou a afastar-se na rua escura.
Por um momento, Gordon pensou em segui-la, mas notou o peso excessivo das pernas. De qualquer modo, não parecia merecer a pena.