Explicou a possibilidade da New Albion, enquanto Ravelston fazia deslizar o nó do indicador pelo nariz.
- Sim, estou ao corrente disso. Trocámos impressões, quando ele saiu da New Albion.
- Mas decerto não acha que procede bem ao despedir-se? - aventurou ela com prontidão, pressentindo que o interlocutor achava mesmo.
- Bem, na verdade não foi uma decisão muito sensata. Em todo o caso, existe uma certa percentagem de lógica no que ele alega. O capitalismo está corrupto e devemos manter-nos fora dele... é a sua ideia, claro. Embora não seja uma atitude prática, compreende-se.
- Talvez, como teoria. Mas quando ele está sem emprego e podia arranjar trabalho se fosse pedir... com certeza não pensa que faz bem em recusar?
- De um ponto de vista de bom senso, não. Mas em princípio... sim.
- Ora, em princípio! As pessoas como nós não se podem dar ao luxo de obedecer a princípios. É isto que o Gordon se' nega a compreender.
Este não saiu do apartamento, na manhã seguinte. Uma pessoa resolve fazer essas coisas, quer fazê-las, mas chegado o momento, à claridade fria matinal, ficam por fazer. Prometeu a si mesmo ficar «só mais um dia», até que passaram cinco desde a visita de Rosemary e continuava a não arredar pé, vivendo à custa de Ravelston, sem o mais remoto vislumbre de emprego no seu horizonte. Persistia em fingir que o procurava, mas apenas para salvar as aparências. Saía e permanecia horas em bibliotecas públicas, até que regressava ao apartamento, para se deitar na cama do quarto de hóspedes e fumar interminavelmente. E por muito que a inércia e o medo das ruas o mantivessem ali, aqueles cinco dias foram horríveis, abomináveis, hediondos. Não há nada de mais penoso no mundo do que viver em casa alheia, comer o pão do anfitrião e não fazer nada em troca. E talvez o pior de tudo ocorra quando ele se recusa a admitir que é o seu benfeitor, como na realidade acontece. Na verdade, nada poderia exceder as atenções de Ravelston, o qual preferiria morrer a admitir que Gordon o «sugava».