A rotina estúpida e monótona não o apoquentava. O recheio da loja aumentara para um milhar de «títulos variados» e proporcionava a Mr. Cheeseman uma libra de lucro por semana, pelo que se sentia feliz à sua maneira. No entanto, o livreiro nutria um rancor secreto contra Gordon. Este fora-lhe vendido, por assim dizer, como um alcoólico, pelo que ele acalentara a esperança de que se embebedasse e faltasse ao emprego uma vez por semana, no mínimo, o que lhe proporcionaria pretexto suficiente para reduzir o salário, todavia Gordon permanecia arreliadoramente sóbrio. Por estranho que parecesse, não experimentava a menor inclinação para a bebida. Na realidade, passaria sem cerveja, mesmo que dispusesse de dinheiro. O chá afigurava-se-lhe o veneno mais apropriado. Todos os seus desejos e descontentamentos haviam perdido o relevo de outrora. Encontrava-se mais tranquilo com trinta xelins semanais do que quando ganhava duas libras. Os trinta xelins chegavam, sem esforço especial, para pagar a renda, o tabaco, a conta de lavagem da roupa semanal de cerca de um xelim, um pouco de combustível e as refeições, que consistiam quase inteiramente em bacon, pão com manteiga e chá, pelo preço aproximado de dois pence diários, o gás incluído.
Às vezes, até sobravam seis pence para uma plateia num cinema barato e pouco atraente perto de Westminster Bridge Road. Continuava a fazer-se acompanhar do manuscrito de Prazeres Londrinos, mas apenas pela força do hábito, pois abandonara a própria pretensão de escrever. Passava todos os serões da mesma maneira. No remoto e sórdido sótão, diante do lume se restava algum carvão e na cama em caso contrário, com a chaleira e o tabaco ao seu alcance, a ler, sempre a ler, Agora só se interessava por semanários de dois pence. Tit Bits, Answers, Peq's Peper, The Gem, The Magnet, Home Notes, The Girl's Own Papereram todos a mesma coisa. Ele costumava levá-los às dúzias da livraria. Mr. Cheeseman possuía-os aos montes, restos dos tempos do tio e utilizados como papel de embrulho.
