Todavia, ela também não apresentava o mesmo aspecto. Perdera a postura elegante e a roupa dir-se-ia vestida apressadamente. Era óbvio que havia algo de errado. 
Gordon fechou a porta atrás da loira platinada e voltou-se para dentro. 
- Não esperava esta visita. 
- Tinha de vir. Escapuli-me do emprego à hora do almoço. Aleguei que não me sentia bem. 
- De facto, não estás com aspecto famoso. É melhor sentares-te. 
Havia apenas uma cadeira na livraria. Ele foi buscá-la de junto da secretária e ofereceu-a a Rosemary, enquanto efectuava um gesto vago, como que para a acariciar. Todavia, ela não se sentou e, ao invés, pousou a mão, de que descalçava a luva, no topo do espaldar da cadeira.
Pela pressão dos dedos, Gordon pôde determinar que se achava profundamente agitada. 
- Tenho uma coisa horrível para te comunicar. Afinal, sempre aconteceu. 
-O quê? 
- Vou ter um filho. 
- Um filho? Santo Deus!... - Ele interrompeu-se, apavorado. Por um momento, afigurou-se-lhe que acabavam de o atingir com violência abaixo das costelas. Por fim, fez a habitual e insensata pergunta: - Tens a certeza? 
- Absoluta. Há já algumas semanas. Se soubesses o que tenho passado! Acalentava a desesperada esperança... Fartei-me de tomar comprimidos... Foi simplesmente de arrasar os nervos! 
- Um filho! Fomos uns imprudentes! Como se não pudéssemos prever uma coisa destas! 
- Tens razão. A culpa talvez fosse minha... 
- Que maçada! Vem aí alguém. 
A sineta da porta tilintou e entrou uma mulher nutrida e sardenta, de lábio inferior protuberante e andar ondulante, que pediu secamente «Qualquer coisa que meta crimes». Rosemary sentou-se e apertava a luva entre os dedos. Entretanto, a cliente revelava-se' cansativa. Recusava sistematicamente' todos os livros que Gordon lhe oferecia, com o pretexto de «já li» ou «não me cheira a interessante». A notícia alarmante que Rosemary acabava de lhe transmitir enervava-o.