- Sobre quê? - inquiriu a jovem, com um clarão de triunfo atrás das lentes. O costume! Mais um à procura de porcaria!
- Bem, obras de obstetrícia. Do nascimento de bebés, etc.
- Não emprestamos livros dessa natureza ao público em geral- declarou em tom glacial.
- Desculpe, mas gostava de me elucidar de determinado ponto.
- É estudante de medicina?
- Não.
- Então, não percebo para que quer consultar obras de obstetrícia.
Maldita mulher! Gordon reflectiu que, noutras circunstâncias o intimidaria, mas agora apenas o irritava.
- Já que, pelos vistos, precisa de saber, a minha mulher vai ter um filho e não possuímos conhecimentos profundos da matéria. Interessava-me, pois, recolher alguns ensinamentos.
Ela não acreditava numa única palavra do que ouvia, e decidiu que o homem parecia demasiado miserável e cansado para ser um recém-casado. Não obstante, a sua missão consistia em emprestar livros e raramente os recusava, excepto a crianças.
O pretendente acabava sempre por obter o que procurava, depois de ficar inteirado de que não passava de um suíno imundo. Assim, com ar asséptico, conduziu Gordon a uma pequena mesa no centro da sala e presenteou-o com dois grossos volumes de capa castanha. Em seguida, afastou-se, mas continuou a vigiá-lo: dissimuladamente. Ele- pressentia as lentes grossas cravadas na nuca à distância, numa tentativa para decidir pela sua atitude se na realidade buscava informação ou tencionava unicamente absorver as passagens obscenas.
Ele abriu um dos livros e rebuscou sem a experiência indispensável. Havia hectares de texto em corpo miúdo cheio de expressões latinas, que não lhe serviam para nada. Pretendia algo de mais simples - gravuras, por exemplo. Há quanto tempo duraria a situação? Seis semanas, porventura nove. Ah, devia ser isto!
Acabava de se lhe deparar a representação de um feto de nove semanas, que lhe proporcionou um abalo, porquanto não esperava minimamente que tivesse aquele aspecto.