punhado de outras. «Quanto é?», pergunta, e a empregada responde «Três pence». Nessa altura, rebusca na algibeira e extrai o minúsculo e, absurdo objecto, sozinho, colado à ponta do dedo como uma peça de tiddley-wing. A empregada funga com desdém. Percebe imediatamente que é a derradeira moeda do cliente. Este' vê-se olhado furtivamente e imagina que ela decerto se pergunta se ainda haverá um fragmento de pudim de Natal pegado. E ele sai de nariz no ar e não pode- voltar a pôr lá os pés. Não! Não gastaria o seu Joey. Restavam, pois, dois pence e meio - dois pence e meio para durarem até sexta-feira.
Era a hora solitária a seguir ao almoço, quando se esperam poucos ou nenhum visitante. Ele encontrava-se só com sete mil livros. A pequena e escura sala, com odor a pó e papel velho, que comunicava com o gabinete, estava cheia até à borda de livros, na sua maioria envelhecidos e invendíveis. Nas prateleiras superiores perto do tecto, os volumes in-quarto de- enciclopédias extintas dormitavam de lado em pilhas como caixões acamados em valas comuns. Gordon afastou as corainas azuis impregnadas de pó que serviam de vão de entrada da sala contígua, a qual, mais bem iluminada que a outra, continha a biblioteca de empréstimo. Tratava-se de uma daquelas bibliotecas de «dois pence sem depósito» apreciadas pelos ladrões de livros. Só lá havia romances, evidentemente. E que romances! Mas isso também era uma coisa natural.
Num total de oitocentos, os romances enchiam três lados da sala até ao tecto, fila após fila de encadernações oblongas berrantes, como se as paredes tivessem sido construídas com tijolos de muitas cores assentes na vertical. Achavam-se dispostas por ordem alfabética de autores. Arlen, Burroughs, Deeping, Dell, Frankau, Galsworthy, Gibbs, Priestley, Sapper, Walpole. Gordon olhou-os com aversão inerte. Naquele momento, detestava todos os livros, em particular os romances. Era horrível pensar naquele lixo ensopado em humidade e semicozido acumulado num único lugar. Pudim - pudim de sebo. Oitocentas fatias de pudim que o emparedavam -
