costas dignamente erectas. Mas sem dúvida que, à noite, quando ai escuridão lhe ocultasse os rubores, visitaria um alfarrabista e compraria Grande Farra num Convento Persa, de Sadie Blackeyes.
Gordon desinteressou-se da porta e virou-se de novo para as estantes. Nas prateleiras à esquerda de quem saía da biblioteca, encontravam-se os volumes novos e quase novos - uma mancha de cor viva destinada a atrair a atenção de quem olhasse através da porta de vidro. As lombadas lustrosas sem imperfeições pareciam chamar as pessoas. «Comprem-me, comprem-me»!, dava a impressão que diziam. Romances acabados de sair do prelo - noivas ainda' invioladas, ávidas do corta-papel que as desfloraria - e exemplares para crítica, como jovens viúvas, ainda florescentes, embora já não virgens, e, aqui e ali, em conjuntos de meia dúzia, aquelas patéticas coisas solteironas, «restos», que conservavam com esperança a longamente preservada virgindade. Gordon desviou os olhos dos «restos», porque lhe evocaram recordações hediondas. Do único e, infortunado livrinho que publicara, dois anos atrás, vendera exactamente cento e cinquenta e três exemplares e passara a ser «resto», mas nem como tal tivera mais procura. Ignorou os livros novos e deteve-se diante das prateleiras que se estendiam em ângulo recto para eles e continham mais obras em segunda mão.
À direita, havia uma secção de poesia. Os volumes na sua frente eram de prosa, um conjunto variado. Achavam-se classificados para cima e para baixo, de limpos e dispendiosos ao nível dos olhos a baratos e sujos no topo e ao fundo. Trava-se em todas as livrarias uma feroz luta darwiniana, em que as obras de escritores vivos gravitam ao nível dos olhos e os dos mortos vão para cima ou para baixo - para baixo até Geena ou para cima até ao trono, mas sempre longe de qualquer lugar em que possam dar nas vistas. Nas prateleiras do fundo, os «clássicos», os monstros extintos da época vitoriana, apodreciam discretamente. Scott, Carlyle, Meredith, Ruskin, Pater, Stevenson - quase não se conseguiam ler os nomes nas largas e deselegantes lombadas.
