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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 94
Eram canecas grossas, de modesta qualidade, quase tão espessas como frascos de compota, e pouco limpas. A cerveja apresentava uma superfície de espuma que se dissolvia gradualmente. A atmosfera achava-se impregnada de fumo de tabaco denso como o da pólvora. Ravelston descortinou uma escarradeira necessitada de ser esvaziada junto do balcão e desviou os olhos.

Acudiu-lhe ao pensamento a possibilidade de a cerveja ter sido aspirada de uma cave infestada de baratas através de tubo pegajoso e as canecas apenas mergulhadas em água acervejada e nunca lavadas devidamente. Entretanto, Gordon tinha um apetite devorador. Não lhe desagradaria tragar uma ou duas sanduíches de queijo, mas se as pedisse denunciaria o facto de que não jantara. Ao invés, ingeriu um longo trago de cerveja e acendeu um cigarro, que lhe fez esquecer um pouco a fome. Ravelston também se serviu da sua e pousou a caneca com suavidade. Era cerveja tipicamente londrina, apesar do que deixava um certo sabor químico na boca que o fez pensar nos vinhos da Borgonha. Continuaram a conversar sobre o socialismo.

- É altura de começar a ler Marx, Gordon - disse Ravelston, menos apologeticamente do que de costume, porque o gosto detestável da cerveja o irritara.

- Preferia ler Mrs. Humphry Ward.

- Mas não vê que assume uma atitude irrazoável? Está sempre a lançar remoques contra o capitalismo e, por outro lado, recusa-se a aceitar a única alternativa possível. Não se podem endireitar as coisas num meio-termo. Ou se aceita o capitalismo ou o socialismo. Não há que fugir disto.

- Já disse que não quero perder tempo com o socialismo. A simples ideia provoca-me sono.

- Em que baseia as suas objecções?

- Só existe uma objecção ao socialismo: ninguém o quer.

- Que posição tão absurda!

- Isto é, ninguém que compreenda o seu verdadeiro significado.

- A que significado se refere?

- Bem, uma espécie de Bravo Novo Mundo, de Aldous Huxley, mas menos divertido: Quatro horas por dia numa fábrica-modelo, a apertar a porca número seis mil e três.

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pág. 94 (Capítulo 6)

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Capa do livro O Vil Metal
Páginas: 257
Página atual: 94

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 2
Capítulo 3 22
Capítulo 4 38
Capítulo 5 66
Capítulo 6 85
Capítulo 7 109
Capítulo 8 129
Capítulo 9 159
Capítulo 10 185
Capítulo 11 212
Capítulo 12 231
Capítulo 13 251