Sangue Azul - Cap. 21: 9 Pág. 227 / 287

Foi por esse motivo que se afastou, posso garantir-lhe. Ele contou-me a história toda, não tinha segredos comigo. É curioso que, tendo eu acabado de a deixar em Bath, o meu primeiro e principal conhecimento, ao casar-me, tenha sido o seu primo, e que, por intermédio dele, tivesse ouvido falar constantemente do seu pai e da sua irmã. Ele descrevia uma Miss Elliot, e eu pensava muito afectuosamente na outra.

- Talvez - exclamou Anne, tomada por uma ideia súbita tenha falado algumas vezes de mim a Mr. Elliot?

- Com certeza que falei, muitas vezes. Costumava vangloriar-me da minha Miss Elliot e afirmar que a Anne era uma criatura muito diferente de...

Calou-se mesmo a tempo.

- Isso explica uma coisa que Mr. Elliot disse a noite passada - exclamou Anne. - Sim, isso explica. Descobri que ele estava habituado a ouvir falar de mim, mas não conseguia compreender como. Que loucas fantasias congeminamos, quando o nosso querido eu está envolvido! E como é mais que certo enganarmo-nos! Mas peço-lhe perdão, interrompi-a. Mr. Elliot casou, então, inteiramente por dinheiro? Essa circunstância foi, provavelmente, a primeira a abrir os seus olhos quanto ao carácter dele.

Mrs. Smith hesitou um pouco.

- Oh, essas coisas são tão comuns! Quando vivemos na sociedade, o facto de um homem ou uma mulher casarem por dinheiro é demasiado comum para nos causar a impressão devida. Eu era muito nova, e só me relacionava com os jovens, formávamos um grupo estouvado e alegre, sem normas de conduta rigorosas. Vivíamos para nos divertirmos. Agora penso de maneira diferente, o tempo, a doença e os desgostos deram-me outras ideias. Mas, naquela época, devo confessar que não vi nada de repreensível na maneira de proceder de Mr. Elliot. «Fazer o melhor por si mesmo» era tido como um dever.





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