Sangue Azul - Cap. 23: 11 Pág. 274 / 287

E aí, enquanto percorriam lentamente a subida gradual, indiferentes a todos os grupos que os cercavam, não vendo nem políticos de passeio, nem governantas azafamadas, raparigas namoradeiras, nem amas e crianças, puderam abandonar-se às recordações e confissões, e em especial às explicações do que precedera imediatamente o momento presente, que se revestiam de um interesse tão pungente e incessante.

Todos os pequenos e variados acontecimentos da última semana foram rememorados, e os do dia anterior e daquele dia, que quase pareciam não ter fim.

Anne não se enganara a respeito dele. O ciúme de Mr. Elliot tinha sido a influência retardadora, a dúvida, o tormento. Isso tinha começado a actuar na própria hora do primeiro encontro em Bath, isso voltara, após uma breve trégua, para arruinar o concerto, e isso influenciara-o também em todas as coisas que tinha dito e feito, ou deixado de dizer e fazer, nas últimas vinte e quatro horas. Fora cedendo gradualmente ante as melhores esperanças que os olhares dela, ou as suas palavras ou actos, ocasionalmente encorajavam, e fora vencido, enfim, pelos sentimentos e pelo tom de voz que lhe tinham chegado aos ouvidos enquanto Anne falava com o capitão Harville - e sob cuja irresistível influência ele pegara numa folha de papel e desafogara os seus sentimentos.

Ao que então escrevera, nada tinha que retirar ou rectificar. Reiterou que não amara ninguém senão a ela. Ela nunca fora suplantada. Nunca acreditara, sequer, que pudesse conhecer alguém que se lhe igualasse. Era no entanto obrigado a reconhecer que fora constante inconscientemente, ou melhor, sem intenção; que pretendera esquecê-la, e julgara tê-lo conseguido. Tinha-se imaginado indiferente, quando estava apenas zangado, e fora injusto para com os méritos dela porque sofrera por causa deles.





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