Sangue Azul - Cap. 23: 11 Pág. 275 / 287

Agora o carácter de Anne estava gravado na sua mente como a própria perfeição, representando o mais adorável meio-termo entre fortaleza de espírito e brandura: mas era obrigado a admitir que só em Uppercross aprendera a fazer-lhe justiça, e só em Lyme começara a compreender-se a si mesmo.

Em Lyme recebera lições de várias sortes. A admiração momentânea de Mr. Elliot despertara-o, pelo menos, e os acontecimentos no Cobb e em casa do capitão Harville não tinham deixado dúvidas quanto à superioridade dela.

Afirmou que, nas suas tentativas anteriores para se prender a Louisa Musgrove (tentativas ditadas por um orgulho ferido), sentira definitivamente que tal era impossível; que não amava, não podia amar Louisa, embora até àquele dia, até ao tempo para reflectir que se lhe seguira, não tivesse compreendido a perfeita excelência do espírito com o qual o de Louisa não se podia comparar - nem o domínio absoluto e sem par que esse espírito exercia sobre o seu. Lá aprendera a distinguir entre a firmeza de princípios e a obstinação da voluntariedade, entre os atrevimentos da insensatez e a determinação de uma mente senhora de si. Lá, vira tudo quanto exaltava na sua estima a mulher que perdera, e começara a lamentar o orgulho, a leviandade, a loucura do ressentimento que o tinham impedido de reconquistá-la quando voltara a aparecer no seu caminho.

A partir dessa altura o seu castigo tornara-se doloroso. Mal se libertara do horror e do remorso dos primeiros dias após o acidente de Louisa, mal começara a sentir-se de novo vivo, tinha começado também a sentir que, apesar de vivo, não estava realmente livre.

- Descobri - disse - que o Harville me considerava um homem comprometido! Que nem ele nem a sua mulher tinham qualquer dúvida quanto ao nosso afecto mútuo.





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