beleza e espírito, desperdiçar-se assim aos dezanove anos, prender-se aos dezanove anos num noivado com um jovem que não tinha nada a recomendá-lo, além dele próprio, nem quaisquer esperanças de alcançar riqueza a não ser nos acasos de uma profissão muito incerta, e não tendo sequer relações que lhe pudessem assegurar maior subida naquela profissão... oh, seria, deveras, um desperdício em que lhe doía muito pensar! Anne Elliot, tão nova, conhecida de tão poucos, arrebatada assim por um desconhecido sem família nem fortuna - ou melhor, afundada, arrastada por ele para um estado de desgastante, ansiosa dependência destruidora da juventude! Não podia acontecer, não aconteceria nem que para o impedir fosse necessária qualquer interferência justa da amizade, quaisquer protestos de uma pessoa que lhe tinha quase um amor de mãe, e direitos de mãe.
O capitão Wentworth não possuía fortuna. Tivera sorte na sua profissão, mas, gastando liberalmente o que liberalmente ganhara, não realizara nada. Tinha no entanto confiança de que em breve seria rico: cheio de vida e ardor, sabia que não tardaria a ter um navio e a encontrar-se numa posição que o conduziria a todas as coisas que queria. Sempre tivera sorte; sabia que continuaria a tê-la. Uma tal confiança, forte no seu próprio entusiasmo e fascinante no espírito com que frequentemente era expressa, devia ter sido suficiente para Anne; mas Lady Russell via-a de modo muito diferente. O temperamento ardente do jovem e a intrepidez do seu espírito despertavam nela reacções muito diferentes. Via nisso apenas uma exacerbação do mal. Só servia para lhe acrescentar um carácter perigoso. Ele era brilhante, ele era obstinado. Lady Russell tinha pouca simpatia pela finura de espírito e verdadeiro horror por qualquer coisa que se parecesse com imprudência.
