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Capítulo 23: XXII - A filosofia do Gabiru

Página 133
Não teve tempo para olhar a montanha, o mar, o céu – o espectáculo de Deus não o viu – porque corria atrás da felicidade. Não perdeu uma hora apanhando sol como um mendigo, tendo piedade de seus irmãos, dando mão aos desgraçados, porque vivia numa aflição, atrás do quê? Da felicidade. Não se sentiu a sós consigo, não se encontrou, nem sequer um dia da sua vida perdeu olhando-se cara a cara, ele e a sua alma, fechado com o seu coração. Porquê? Porque corria atrás da felicidade. Desprezou tudo, a vida, a respiração dos montes; riu-se do amor, da emoção – futilidades – porque feroz, incansável, negro como um mineiro, ele buscava, sem perder um minuto – a felicidade! Chegou ao termo da jornada, tendo amontoado oiro e pão, tirado a outras bocas, tendo feito gritar, blasfemar, contente o seu orgulho e a sua vaidade mas afinal profundamente desgraçado. Está a dois passos da cova. Interroga-se e não compreende. Então isto é que era a felicidade? De que me serve tudo isto? O desgraçado não reparou que a felicidade na vida estava exactamente no que ele tinha desdenhado!

Ama, ama a teus irmãos e vê-lo-ás transformados e cheios de beleza: mesmo nos mais secos irás encontrar coisas inesperadas; ama a natureza, os montes, as pedras – e verás que espectáculo sublime; ama, que sentirás a mão de Deus pousar sobre a tua cabeça.

Torna a vida simples e serás feliz. A tua vida não custará gritos; o teu pão não será furtado a bocas famintas. Por cada homem que amontoa oiro, há cem criaturas morrendo no desespero e na aflição.

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pág. 133 (Capítulo 23)

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 133

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154