Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 1: Carta-Prefácio

Página 16
Reze o triunfo do amor, a alegria ascendente da natureza, a marcha épica da vida pelo caminho eterno, que não tem fim. Reze chorando, mas lágrimas fecundas, que façam parir a terra, palpitar o seio e germinar a semente. Lágrimas de aurora, orvalho vivo e criador. Rezar e chorar, mas heroicamente, na acção e na luta, no mundo e para o mundo. Rezar, como Nuno Álvares, entre o fogo ardente da batalha.

Enganam-se os que vão para Deus, voltando as costas à natureza. Quem se quiser salvar, há-de salvar os outros.

Quem renegar a natureza, renega Deus. A ascese egoísta, eis o ateísmo verdadeiro. A imobilidade é sacrílega, a escuridão é sacrílega, o silêncio é sacrílego. A vida é som, é luz, é movimento. A vida marcha por abismos, trágica e formidável, mas ruidosa e sinfónica, vestida de luz e de mil cores. Amortalhá-la de negro, arrancar-lhe a língua, para que não cante, e os olhos, para que não deslumbre e não dardeje, é como se lhe cravássemos no coração uma facada sinistra. O quietismo beato, apagando o universo, apaga Deus. Quietismo e niilismo, – dois zeros, dois sinónimos. O frade católico, na concha da mão, exangue e paralítica, sustenta uma caveira. o nada olhando o não ser. O monge ideal, na dextra poderosa, em vez da caveira, tem um globo de oiro constelado. Tem o universo. É o monge futuro.

Seja ele o tipo a que se encaminhe, embora de longe, a nossa fé e a nossa arte. Rezemos, vivificando e sublimando. Arte criadora, que seja pão e seja luz.

Se nos acusarem de hipócritas, deixá-los acusar; mentem. E a mentira só aos mentirosos prejudica. Se nos amesquinharem a fama e cercearem a glória, desviando de nós as multidões, que não pensam e vão para onde as levam, melhor. Os que nos querem, os que nos amam, os que nos entendem, ficarão connosco.

<< Página Anterior

pág. 16 (Capítulo 1)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 16

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154