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Capítulo 1: Carta-Prefácio

Página 15

O seu poema é a história da escalada trágica do seu calvário. Mil vezes o meu amigo tomou nos ombros a cruz da dor e da paixão, e outras tantas a deixou cair, exausto, com ais de desânimo, ou a sacudiu exasperado, cuspindo invectivas no lenho duro do resgate. Mas por fim, sangrando e chorando, galgou a montanha do erro e do sofrimento. Chegou a Deus, e em Deus ficaram imóveis e serenos os olhos tristes da sua alma. Polarizouse em Deus, de vez e de vontade. Livre, enfim! Libertouse.

Não volte à servidão, à escravatura negra e demoníaca. Mantendo-se liberto, a obra de hoje, patética, mas angustiosa e desigual, a obras futuras, vastas, claras e radiantes, servirá de entrada e de prefácio. A arte vale mais ou menos segundo a porção de amor que abrange e que revela. A arte soberana é a que conjuga a natureza toda, – homens e monstros, águas e árvores, pedras e nuvens, sóis e nebulosas, com o verbo infinito e perfeito, o único verbo criador, que é o verbo amar. O universo atómico, partículas inúmeras e vagabundas, fraterniza em Deus, unificado numa só alma e num só corpo.

Rezar o universo é polarizá-lo no infinito amor.

Cantar não basta. Rezar é mais. Rezar é o superlativo divino de cantar. A oração é a canção angelizada, a canção chorada e de mãos postas. O universo absorve-a, compreende-a. Ouve-a Deus, os homens escutam, e as ondas, as águas e os rochedos, vagamente a percebem, como um hálito amigo, uma carícia branda e luminosa.

Reze todas as dores, pobrezas, misérias, lutos, sofrimentos. Reze o lodo e o sangue, o ninho, o covil, o hospital, o cárcere, a enxovia, a terra trágica, ulcerada de mortes, e a noite côncava e fúnebre, ulcerada de sóis e de nebulosas. Reze a dor, mas reze também a alegria, que é dor vencida e desbaratada pelo amor.

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 15

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154