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Capítulo 4: III - As mulheres

Página 34
.. – ameaça a patroa pondo-se de pé.

– O quê, senhora?

– Para sempre, traz-se para sempre uma pedra no coração sem se poder arrancar.

– Então para que nasce a gente? Só para sofrer? – pergunta Sofia.

– Só. A este mundo vem-se para sofrer.

– Ah!...

– Enganai-os. Tratai de juntar, de juntar dinheiro.

O resto tudo é fingido...

Mas uma, triste e magra, a tísica:

– Nesta vida todos nos rebaixam e a gente precisa de encontrar alguém, um pobre como a gente...

– Inda que seja um ladrão... – interrompe Luísa.

– Ao pé de quem se não sinta desprezada.

– Meteu-se a gente na triste vida e nunca mais pode sair – afiança a outra. – Olhai que me lembro... Cada qual aqui é menos que nada, é como a terra...

De dia pela porta escancarada vê-se o banco do hospital. Nada mais puído do que essas míseras tábuas de pinho secas, gastas, distinguidas, e nada também mais comovente. Vivem, estremecem. Há coisas que, à força de serem tocadas pelas mãos humanas, ganham alma, criam fisionomia. Antes da morte ali tombaram os corpos que, como uma pua, a dor brocou. Aquelas tábuas mirradas, de se sentirem a toda a hora roçadas pelas mãos de náufragos (todos os que entram no hospital ali passam, santos, poetas, pobres com a boca cheia de gritos), começaram uma outra existência.

Foi a árvore arrancada à terra para amparar os pobres. É ainda mais bela do que levantada no topo do solitário monte, ao nevão, ao sol, à tempestade, às estrelas. Ei-la enfim somente erguida para a dor. Tábuas que já deram sombra na floresta, embebidas de seiva e de azul, vieram servir de encosto a míseros: têm nódoas de sangue, dedadas de aflição e suor de desgraçados que se entranhou na madeira.

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 34

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154