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Capítulo 6: V - História do Gebo

Página 47
Então nada! então só ele não percebia que ninguém pode viver neste mundo sem sonhar, e quanto mais pobres, mais necessário se torna juntarem-se e arquitectarem uma mentira, como friorentos à procura de lume!...

No seu caminho só encontra desgraçados e todos os desgraçados procuram iludir-se. O seu convívio é com seres quase tão grotescos como ele e que se fartam de ilusão.

À tarde o Gebo vai para uma loja conhecida onde se juntam os comerciantes falidos e os professores sem discípulos, desesperados por terem perdido tudo menos a faculdade de sonhar. Um a um canto, calado, com as mãos sobre o castão da bengala e o queixo apoiado nas mãos, escuta. Escuta ou sonha?... Outro fala sempre, maneja cifras como um prestidigitador, e está ao facto de todos os negócios que se fazem na praça. E há outro a quem o dinheiro não interessa. Já tem enriquecido e empobrecido umas poucas de vezes, sempre com a mesma indiferença e o mesmo casaco verde; o que o interessa são as empresas, os planos, as aventuras irrealizáveis. E aquele encostado ao balcão, magro e sereno, só intervém com palavras decisivas e todos se afastam dele: têm a especialidade de meter no fundo os negócios em que entra, por melhores que eles sejam.

Todos trazem letras na algibeira, papéis que ninguém desconta, combinações esplêndidas para enriquecer. E falam muito, enganam-se uns aos outros, não por mentirem, mas para tornarem mais visível a sua aspiração, o sonho escondido e inútil. Só o Gebo não pode mais e olha-os num mudo espanto.

– Oh como eu sou feliz!... – exclamava um deles.

– Agora tenho aí um lugar...

Nem sequer o escutavam e, se um saía, diziam os outros:

– Cuido que está cada vez pior.

– Um homem que teve um crédito na praça!

– Tem a fome à porta.

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pág. 47 (Capítulo 6)

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 47

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154